31.12.07

Até 2008!

Caríssimos leitores e caríssimas leitoras deste blogue.
Por este ano é tudo. Para o ano, embora não prometa, haverá mais.
Votos de um bom ano novo!

29.12.07

"Cara al Sol"

"Internacional"

"Himno de la Segunda República Española"

Salazar chega ao poder... e fica!

No mês de Abril de 2008 cumprem-se 80 anos sobre a chegada de Oliveira Salazar ao Governo onde ocupou a pasta das Finanças. Foi promovido a presidente do Conselho em Julho de 1932. No ano seguinte nasceu, à sombra de uma nova Constituição, a Segunda República portuguesa conhecida como Estado Novo. Apesar de sempre afirmado que vinha para Lisboa contrariado e com grande sacrifício pessoal, a verdade é que também sabia muito bem ao que vinha e porque vinha. Ficou e permaneceu 40 anos no poder. É, talvez, a personagem da vida política portuguesa contemporânea mais interessante e mais enigmática. Aguarda um novo biógrafo, depois de Franco Nogueira o ter retratado em seis grossos volumes publicados nas décadas de 1970 e 1980. Escutemo-lo um pouco no dia em que na cidade de Braga se comemoravam os 10 anos do 28 de Maio de 1926.

Maio de 1968? Serge Reggiani

Em 2008, cumprem-se 40 anos sobre o Maio de 1968. O "Maio de 1968" não foi apenas em França, nem sobretudo em França. Tem raízes em muitos acontecimentos que tiveram lugar um pouco por toda a Europa e, também, nos EUA. O "Maio de 1968" foi português e brasileiro e foi, porque não, inspirado sobretudo pelo maoismo e pela Revolução Cultural Chinesa promovida por Mao Tsé-tung em meados da década de 1960. Uma "revolução permanente" que servia os desígnios de poder de Mao destruindo tudo à sua volta.
Os Maios de 1968, burguesmente anti-burgueses, fizeram-se contra o capitalismo e imperialismo europeu e norte-americano, mas também contra o social-fascismo soviético. Tinham raízes em movimentos culturais e intelectuais que marcaram a história da Europa e dos EUA desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Pretendiam destruir o capitalismo e a sociedade burguesa, mas também o totalitarismo soviético. Os seus protagonistas ao fantasma de Trostki, e veneravam as revoluções terceiro mundistas em África, na América Latina e no Sudeste Asiático. Mas os revolucionários de 68, absolutamente intolerantes, podiam odiar-se tanto e perseguir-se tanto entre si como aos seus inimigos objectivos. O Maio de 1968 deve, também por isso, ser recordado. E depois, porque nos deixou músicas, letras e intérpretes inesquecíveis! Como Serge Reggiani!

The Costs of Containing Iran

21.12.07

Revisionismo histórico ou quê?

Às oito da manhã na TSF e à uma da tarde na TVI, lá disseram os jornalistas de serviço, diligentemente, que o alargamento do "espaço" Schengen à Europa central e de leste punha finalmente um ponto final na história da "Cortina de Ferro". Ou seja, a "Cortina", que nos tínhamos habituado a considerar sinónimo da divisão da Europa por causa da ocupação militar soviética de países como a Checoslováquia, a Bulgária, a Roménia, a Hungria e dos três estados Bálticos, tinha afinal, para espanto meu, sobrevivido dezanove anos à queda do Muro de Berlim, dezassete à implosão da URSS e, consequente, ao fim da Guerra Fria. Como a afirmação foi produzida duas vezes em órgãos de informação tão distintos, é óbvio que ela só pode ter tido origem externa às redacções. Por isso, só me pergunto se tão arrojada afirmação é sinónimo de puro revisionismo histórico ou de singelo servilismo ideológico perante os superiores desígnios da "Nova Europa"? Por mais que uma coisa vá dar à outra.

18.12.07

Poder de Compra

No "economia dia a dia" da TSF de hoje, Perez Metelo, sempre muito amigo do Governo, recorda-nos que o excepcional aumento do salário mínimo previsto para o próximo ano representará um aumento do poder de compra dos trabalhadores que dele beneficiam. Só gostava que o jornalista me explicasse como é possível, com pouco mais de 400 euros de salário mensal, ter qualquer poder de compra.

Sempre a aprender


Num noticiário da TSF refere-se hoje, não sem emoção, que Fidel Castro admitiu, numa mensagem lida na "televisão do Estado", que poderá não regressar ao exercício do poder. Além deste minudência óbvia que apenas aguarda confirmação definitiva no dia da morte do ditador, fiquei a saber que, em Cuba, existe pelo menos uma estação de televisão privada.

16.12.07

Singela Homenagem

Por causa da vitória de ontem dos "belenenses" sobre o Benfica, segue uma justíssima homenagem ao "mister" do Belém:

15.12.07

A Questão do Kosovo.

A provável e talvez inevitável independência do Kosovo está, compreensivelmente, a baralhar muita gente e a mostrar como, também nestas coisas da autodeterminação e independência de "povos" e "nações", é muito difícil manter coerência política e ideológica. É sobretudo o caso daqueles que se opõem à eventualidade.
Basta que se olhe um pouco para a história para perceber que não existe nenhum argumento político capaz de impedir a criação de mais um estado nos Balcãs. Inviável, ou não, o futuro estado do Kosovo, a verdade é que não será o primeiro, nem sequer o mais inviável daqueles que foram criados depois de 1945. O mesmo argumento é válido se nos opusermos à sua independência por e considerar que será factor de transcendente instabilidade na região.
Parece-me a mim que dificilmente, se pode ter andado nas décadas de 1950 e 1960 a defender e a propor independência de tudo o que era território colonial nas Caraíbas, em África ou na Ásia, já para não falar, por exemplo, de Timor-Leste, e sustentar agora que a independência do Kosovo criaria um estado inviável nos Balcãs.
Há depois o argumento de que a independência do Kosovo é mais uma provocação gratuita à Sérvia e aos sérvios, nomeadamente ao amputar uma parte do seu território de grande importância histórica, ideológica e simbólica. No entanto, seria ridículo que depois da Sérvia ter sido amputada de quase tudo, se fizesse cerimónia com o Kosovo, ainda mais quando a "comunidade internacional", sem mandato da ONU, interveio militarmente contra a Sérvia no Kosovo para impedir o "genocídio" de kosovares mas, de facto, e em última análise, para retirar a Belgrado a capacidade de exercer a sua soberania, internacionalmente reconhecida, sobre uma parte do seu território.
Existe ainda o argumento segundo o qual o reconhecimento europeu e internacional, nomeadamente norte-americano, de uma independência do Kosovo, abrirá uma caixa de Pandora naquelas regiões da Europa, nomeadamente na nossa vizinha Espanha, em que existem fortíssimas tensões nacionalistas e independentistas. Para o bem, ou para o mal, independente o Kosovo, Catalunha ou País Basco também o deverão ser. Porém, a verdade é que a dita "caixa", no que diz respeito aos eventos na antiga Jugoslávia, está aberta há quase vinte anos e, naquilo que “concerne” à Espanha, não só problema nacionalista é mais antigo, como não é liquido que vá degenerar em independências indiscriminadas provocadas por contágio. Por exemplo, depois da balcanização da Europa que teve lugar após o fim da Primeira Guerra Mundial, muitas nações europeias e não europeias ficaram, e ainda permanecem, sem estado. Ora se a partir de 1919 se abriram tão generosamente as portas aos nacionalismos (como nas décadas de 1940, 1950 e 1960 com a vaga descolonizadora), mas todas as questões nacionais não foram resolvidas e a aparente ou real loucura criação de novos estados acabou por ser controlada, não é líquido que seja agora Kosovo independente a redefinir radicalmente as fronteiras europeias ou outras. Sendo certo que a balcanização de Espanha é uma possibilidade e, até, provavelmente, uma possibilidade a evitar, muito mais do que uma independência do Kosovo contribuirá directa ou indirectamente para que tal possa vir a acontecer. No entanto, a balcanização de Espanha só será efectivamente dramática se decorrer de uma vitória do terrorismo sobre a democracia, cenário que no Kosovo nunca se colocou (houve terrorismo de parte a parte e democracia em parte alguma). Paralelamente, seria estranho que não se ponderasse a forte possibilidade de a União Europeia estar condenada a integrar no seu seio aquilo que se propõe agora, e transitoriamente, fraccionar.
Finalmente, há quem se refugie, para defender a integridade territorial da Sérvia, nos perigos que encerra uma rectificação de fronteiras como a que está em marcha na Sérvia e no Kosovo. Ora na verdade a história da Europa tem sido feita, sempre foi feita, a partir da rectificação de fronteiras impostas pelos mais fortes. E diga-se, aliás, para o bem ou para o mal, que este não é sequer apenas um problema europeu naquilo que aos último 50 ou 60 anos diz respeito. Por exemplo, a comunidade internacional, que integrou “sabiamente” a Eritréia na Etiópia depois da Segunda Guerra Mundial, reconheceu o seu direito à autodeterminação e independência há meia dúzia de anos após décadas de guerra civil. A mesma comunidade internacional que reconheceu um único estado paquistanês – um ocidental e um outro oriental –, aceitou décadas mais tarde a inevitabilidade e a bondade da criação do Bangladesh a partir do antigo Paquistão oriental e após vários anos de guerra civil. A comunidade internacional também pouco ou nada faz para impedir a integração do Saara ocidental em Marrocos (outra redefinição de fronteiras), como não mexeu uma palha para evitar aquilo que foi uma violação ilegal e violenta do princípio de não revisão unilateral de fronteiras quando, em Dezembro de 1961, tropas da União Indiana invadiram e ocuparam o "Estado Português da Índia." E por aí fora…
No entanto, apesar de tudo isto, devo confessar que nunca simpatizei tanto com as posições da Sérvia. A Sérvia e os sérvios têm sido ultimamente vítimas maiores do cinismo, da cobardia e da chantagem europeia cujo último momento alto foi a promessa feita a Belgrado de acelerar a sua entrada na UE a troco da aceitação pelo governo e pelo povo sérvio da independência do Kosovo. Este episódio, aliás, fez-me lembrar as propostas que os EUA, no tempo de JFK, faziam ao governo português para que este aceitasse a independência de Angola e, um pouco mais tarde, de todas as "províncias ultramarinas" de então. Para Kennedy, mas não para Salazar, a questão colonial portuguesa era, ou devia ser uma questão de dinheiro. A troco de uns milhões de dólares – uma espécie de fundos estruturais avant la lettre – deixava-se o império e tudo passaria a viver na paz do senhor.

10.12.07

Funeral do "Guardia Civil" Fernando Trapero



Quis, mas não pude, publicar estas imagens a semana passada. Aqui vão. Uma sincera homenagem aos que morreram em Espanha na luta contra o terrorismo da ETA.

Crime sem castigo

Mais um “segurança da noite” – seja lá o que isso for – foi assassinado ontem com tiros de metralhadora em Gaia à porta de sua casa. Parece que é a sexta personagem da noite que morre baleada ou esfaqueada. O que faz o Governo? Assobia para o lado, garantindo que tudo está sob controle. O ministro da Administração Interna, personagem politicamente absurda, tem que sair do Governo e a polícia e os tribunais têm que actuar. E não me venham dizer que andam a investigar. Num meio como o da "noite" toda a gente sabe de onde é que vem o perigo e quem é que pode ser assassinado a seguir. Se ninguém faz nada é caso para desconfiar de tamanha impotência, o que quer dizer que as teias tecidas pela "noite" entram pelas polícias e pelo ministério público do Porto dentro.

Há português maior do que Sócrates?

Com o intuito de promover uma nova imagem do nosso país – e tudo, na vida como na morte, se resume para este Governo a uma “questão de imagem” –, parece que está para rebentar mais uma campanha "mediática" sobre Portugal lá fora. Custou uns três milhões de euros (coisa pouca tendo em conta uns grandes resultados que serão obtidos) e conta com a participação de grandes portugueses vivos que vão do génio Cristiano Ronaldo à humilde Marisa, passando pelo impagável Mourinho. Pelo meio aparecem outros grandes portugueses mais ou menos obscuros, mas com grande obra que falará por si e por eles. Mas há uma ausência lamentável, inexplicável e, até, provocatória. O nosso primeiro Sócrates não aparece. Os “criativos” da campanha, aparentemente, ignoraram-no. Ora, pergunto eu: existe, em Portugal português maior do que ele e que mais tenha contribuído para a nova imagem de um Portugal melhor? É o que se pode chamar um desperdício insustentável de recursos. Tão elegante, tão culto, tão determinado, tão educado, tão tudo! E nada. Não aparece!

9.12.07

Espanha, Portugal e a Cimeira Europa-África de Lisboa.

Não se pode negar que Portugal foi notícia em Espanha por causa da cimeira Europa-África concluída hoje. No entanto, os holofotes sobre a dita, e ao menos nos "telejornais" da TVE, centraram-se num encontro realizado em Lisboa, durante a cumbre, que juntou à mesma mesa Zapatero e Sarkozy para discutirem a cooperação franco-espanhola na luta contra o terrorismo etarra (ver aqui a cobertura do evento pelo El Mundo on-line). Isto para dizer também que seria importante perceber o que é os media de cada de cada país europeu ou africano consideraram valer a pena destacar da citada e redundante cimeira. Tais perspectivas serão interessantes e importantes em si mesmas, mas mais ainda por nos fazerem recordar como foi patético e supérfluo o discurso oficial português e europeu sobre o evento.
Para fim de conversa, fica uma referência a esta notícia no El País on-line sobre a colhida grave de que o toureiro Jesulín de Ubrique foi vítima na Praça de Touros de Elvas. Acontecimento cheio de relevância, tanto pela qualidade do diestro como pelo facto de se tratar da sua última corrida em Portugal e uma das últimas da sua carreira.

1.12.07

Restauração

No dia 1 de Dezembro de 1640 deu-se início, com um golpe palaciano bem sucedido que pretendia pôr fim ao domínio espanhol em Portugal, a uma das mais relevantes e dramáticas revoluções políticas e sociais que o nosso país conheceu em mais de "oitocentos anos de história." Essa Revolução, aguardada por um país e um império ocupados e um povo humilhado e violentado pela boçalidade espanhola, restituiu-nos não apenas a liberdade e a independência. Trouxe de volta a dignidade entretanto perdida.
Hoje, dia 1 de Dezembro de 2007, como aliás genericamente nas últimas décadas, a "Restauração" da independência portuguesa não merece um comentário, uma análise ou uma notícia digna de nota. O seu chefe, o futuro D. João IV (ver imagem acima), é uma não existência para a generalidade dos portugueses que não fizeram a antiga “4.ª classe”. Na imprensa escrita que li, nas rádios que ouvi e nas televisões que vi, escreve-se e fala-se da SIDA – hoje é o seu dia internacional –, da "bola", da Ota e dos empréstimos camarários do Sr. Presidente António Costa. Tudo factos da maior importância para o nosso destino colectivo. O tempo e a ignorância tudo esquecem e tudo justificam. Mas valha a verdade que prefiro este esquecimento, ao circo todos os anos montado e desmontado em torno do "25 de Abril" ou do "25 de Novembro." Já para não falar no que aí vem quando se comemorarem os 100 anos da implantação da República.
P.S.: É verdade que, na Rádio Renascença, António Sala entrevistou D. Duarte Nuno. Não ouvi a dita, mas imagino-a.

30.11.07

Lisboa Revolucionária




Hoje, se a greve geral da função pública o permitir, estarei às 19 horas nos "Paços do Concelho" em Lisboa no lançamento do último livro de um colega que é também um velho e querido amigo: refiro-me a Fernando Rosas e à sua Lisboa Revolucionária editada pela criativa Tinta da China.

26.11.07

O Aborto Clandestino

Esta notícia do Público espanhol recorda-nos que a legalização do aborto não põe fim ao aborto clandestino. Antes pelo contrário. Resta saber qual será a pena para os criminosos. Os que estão dispostos a fazer um aborto em qualquer circunstância por uma boa quantidade de dinheiro; e as que estão dispostas a matar os seus filhos totalmente fora da suposta, ou real, razoabilidade que uma lei que permita o aborto comporta.

21.11.07

Good Friend, C'est Moi!

Agora que a selecção portuguesa de futebol conseguiu o seu apuramento, a ferros, para o "Europeu", resta-me lamentar, sinceramente, a ausência da Inglaterra, derrotada em casa, no último jogo com a Croácia (2-3). Poder-se-á pensar que estou a ser cínico. Afinal ganhamos sempre, bem ou mal, à Inglaterra em fases finais de europeus ou de mundiais - com excepção do sucedido em 1966. Mas não é verdade. Lamento que uma equipa que, normalmente, joga bem à bola e tem grandes “intérpretes”, não vá à Suíça e à Áustria. Por uma vez sinto-me, verdadeiramente, anglófilo. O que é bom. Afinal é nos maus momentos que se conhecem os verdadeiros amigos. Como eu!

17.11.07

No Colchão

Parece óbvio que, no jogo de hoje com a Arménia, a selecção portuguesa de futebol fez aquilo que é suposto Cristiano Ronaldo não fazer num anúncio a um Banco. Ou seja, a equipa portuguesa não saiu do colchão. Extraordinário é que, apesar disso, tenha marcado um golo e ganho o jogo.

Palavras leva-as o vento.

Imagem: Um cata-vento. Fonte: www.imagemnativa.com.br/fotos/507_14_cata-vento.jpg.

Recordo, a quem diz reconhecer “consideração pelo significado das palavras”, ou que “a um adversário não se devem distorcer as palavras”, que o rei Juan Carlos não mandou que Chávez se calasse. Perguntou-lhe, isso sim, porque é que não se calava.

15.11.07

Independentismo Galego.

Com a explosão de mais uma bomba em Cangas esta madrugada, certo “independentismo” galego dá mostras de querer aprofundar uma táctica, ou uma estratégia, de "luta armada". Por agora não é mais do que um terrorismo de muito baixa intensidade. Trata-se de um problema a seguir com atenção nos tempos mais próximos, e não só.

Salazar e Sócrates

Na mesma semana em que as memórias de "Micas", a perfilhada de Oliveira Salazar, chegaram às livrarias e mereceram destaque na imprensa, a revista Visão publica uma reportagem sobre a vida de José Sócrates em privado. Mal por mal prefiro a Micas. É que conta uma história onde se dispensa a intervenção do propagandeado e de qualquer agência de comunicação.

14.11.07

O Mistério do Passaporte!



A selecção portuguesa joga esta semana, em Portugal, os dois derradeiros jogos da chamada fase de qualificação para o campeonato europeu de futebol a disputar em 2008. Gostava por isso que me explicassem por que razão, Paulo Bento, o treinador do Sporting, ao avisar pelo telefone o lateral direito do seu clube, Abel, de que este tinha sido convocado por Scolari à última hora, o jogador deveria fazer as malas, pegar no passaporte (sic) e dirigir-se ao estágio da selecção!

13.11.07

Os Duques de Lugo

A Infanta Elena de Bourbon, que já ouvi ser comparada, na sua muito badalada sexualidade voraz, a Isabel II de Espanha, separou-se de Jaime de Marichalar. Ou melhor, fontes da casa real espanhola reconheceram publicamente aquilo que era um facto conhecido e comentado por muita gente há vários anos. Se a separação dos duques de Lugo se tratasse de uma surpresa absoluta, podíamos argumentar que a falta de paciência de Juan Carlos com Hugo Chavez na cimeira ibero-americana tinha tido o anúncio público deste evento nefasto como causa próxima. No entanto, não deve ter sido assim.
Da separação, em si mesma, só podemos concluir aquilo que é a vulgarização imparável das monarquias europeias. Neste caso, é por demais evidente que também elas padecem dos problemas típicos e das falsas expectativas que dão forma e conteúdo às classes médias no mundo ocidental, fazendo, infelizmente, tábua-rasa do facto de que, desde a Segunda Guerra Mundial, o divórcio deixou de ser marca de distinção das elites. Tal e qual como a formosura proporcionada por uns quilos a mais ou a elegância que pairava por trás do acender de um cigarro. Resta-me aguardar pelo nome do sucessor oficial do filho dos condes de Ripalda na cama de Elena. Fala-se muito de um cavalheiro que usa óculos. Juro que não sou eu.

Gordon encontra Moss


11.11.07

Cachimbadas

A partir de hoje também postarei no Cachimbo de Magritte. A culpa é minha, do Pedro Picoito, que me convidou, e dos restantes companheiros de Cachimbo, que aceitaram ir em tamanha loucura.

Armistício

Cumprem-se hoje 89 anos sobre o “Armistício” que pôs fim à Primeira Guerra Mundial (dias antes já a Bulgária, a Turquia e o Império Austro-Húngaro tinham saído de uma guerra que se tornara insustentável militar, política e socialmente). Quem, como eu, tenha sintonizado a meio da manhã a Sky News no canal 32 da TV Cabo na região de Lisboa, assistiu a uma cerimónia de homenagem a todos aqueles que, no Reino Unido e em boa parte dos países da Commonwealth, serviram nas Forças Armadas e morreram pelos seus países não apenas na guerra de 1914-18, mas em todos os conflitos militares em que esses mesmos países, mas acima de tudo o Reino Unido, estiveram ou ainda estão envolvidos. Não vou agora divagar sobre os méritos desta cerimónia em que se envolve toda a classe política britânica e de muitos estados membros da Comunidade Britânica, os veteranos de guerra, as suas viúvas, e boa parte da sociedade civil britânica e de países àquela comunidade, dando significado patriótico profundo a um dos poucos feriados que, por exemplo, os britânicos têm no seu calendário. Aliás, quem assistisse atentamente a esta cerimónia percebia facilmente algumas das razões pelas quais os britânicos têm tanta dificuldade em mudar do paradigma imperial e insular para o paradigma europeu expresso na União Europeia (entre outras coisas um vazio de “símbolos” e de “exemplos”).
Prefiro aqui sublinhar o carácter catastrófico da Grande Guerra, a começar pelo elevado número de mortos que provocou entre os súbditos de Jorge V, monarca de um império espalhado por todos os continentes. A experiência britânica na primeira guerra geral europeia do século XX, que foi para os britânicos muito mais mortífera do que a mediática Segunda Guerra Mundial, pôs fim a uma idade de ouro na história do império britânico e da Europa ao destruir cem anos de paz “quase” ininterrupta, e por ter sido o toque de finados de uma sociedade, de uma cultura e de uma civilização que, embora em mudança acelerada, assentavam em princípios que procuravam garantir o equilíbrio possível entre a tradição, que sobrevivera à revolução francesa e às guerras napoleónicas, e a modernidade trazida pela industrialização, pela rápida urbanização, pela primeira globalização da era industrial, pelo crescimento demográfico exponencial e pelo advento e consolidação do nacionalismo e do socialismo modernos.
Teria sido a guerra evitável tendo em conta as circunstâncias que a provocaram? Historiadores dizem que sim! Outros dizem que não! O que é certo é que a guerra de 14-18 mudou radicalmente e irreversivelmente o mundo. Tentou democratizá-lo sem êxito. Procurou recuperar, também sem êxito, o capitalismo industrial e financeiro sustentado no padrão-ouro. Transformou os EUA na primeira potência económica mundial ao mesmo tempo que enfraqueceu o Império Britânico e humilhou, por razões diferentes, franceses, alemães e russos. Acabou por procurar encontrar soluções políticas e diplomáticas que tornassem a guerra não apenas ilegal mas também impossível. Fracassou igualmente neste intento. Provocou duas revoluções na Rússia e, com isso, criou condições para que no maior império da história nascesse o primeiro regime socialista de inspiração marxista, facto que ajuda a perceber, ainda que não totalmente, o advento dos fascismos e do nazismo e, também, da Segunda Guerra Mundial. Alargou geograficamente os impérios coloniais europeus mas corrompeu os pressupostos políticos e ideológicos em que assentava o imperialismo e o colonialismo renascidos na segunda metade do século XIX.
Mas da experiência da Grande Guerra e do seu significado guardo na minha memória um testemunho cruzado sobre a dita. Henry Kissinger deixou escrito algures no seu Diplomacy que, em plena "revolução" Tatcher no início da década de 1980, se encontrou com Harold Macmillan, antigo primeiro ministro britânico de um governo conservador. Este ter-lhe-á confessado que assistia com horror e antipatia à forma como o (novo) Partido Conservador enfrentava, numa guerra sem quartel, os sindicatos que lutavam pela preservação de um modelo económico e social começado a construir ainda na década de 1920 e consolidado por sucessivos governos trabalhistas e conservadores nas décadas de 1930 a 1970. Para Macmillan, e segundo Kissinger, aqueles que nas ruas e nas empresas públicas ou privadas lutavam em prol da manutenção dos seus postos de trabalho e do seu modo de vida assente numa forte protecção social sustentada pelos impostos pagos pelos contribuintes não passavam dos netos dos que, como ele, tinham lutado, ficado estropiados ou morrido nas trincheiras da Flandres entre 1914 e 1918 e que por isso qualquer governo de Sua Majestade não tinha qualquer legitimidade moral para lhes exigir os sacrifícios que exigia e, sobretudo, lhes impunha. Ou seja, nenhuma experiência política e social no Reino Unido terá contribuído tanto para criar uma nação a partir de uma sociedade sempre muito dividida. As guerras têm muitas vezes, mais do que qualquer outra experiência colectiva, este enorme mérito. Unem em vez de separar.

10.11.07

Monarquia e Democracia.

No Arrastão, o Daniel Oliveira aproveita um incidente provocado por Chavez em mais uma cimeira ibero-americana, para dizer que Juan Carlos I de Espanha não pode criticar o presidente da Venezuela pela simples razão de que nunca foi eleito. Como se não bastasse, Daniel Oliveira resume a acção de um monarca constitucional como Juan Carlos I àquilo que vai vendo e lendo na imprensa cor-de-rosa espanhola e portuguesa (pelo menos). Não sou monárquico, nem republicano no sentido mais formal de cada um dos termos, embora a “república”, em sentido amplo, seja o meu regime. Apenas, e como Churchill terá um dia dito, me revejo na democracia por ser o pior dos regimes à excepção de todos os outros. No entanto, o Daniel, e não só, faz muito mal em considerar que a legitimidade de um rei como o de Espanha se encontra diminuída pelo facto não ser um chefe de Estado eleito. Faz mal. Juan Carlos I é e será chefe de Estado de Espanha e a monarquia constitucional vigorará em Espanha, como em muitos outros países europeus que se encontram entre mais prósperos, livres e desenvolvidos do mundo, por vontade expressa do povo espanhol. Convém, por exemplo, recordar que a Constituição espanhola em vigor foi referendada pelo povo espanhol, coisa que não aconteceu com a portuguesa que nos rege. Por outro lado, pergunto a Daniel Oliveira e a muitos outros republicanos e democratas de trazer por casa se por acaso pensam que a Espanha, a Suécia, o Reino Unido, a Bélgica, a Noruega, a Dinamarca, a Suécia, ou o Luxemburgo são sociedades e sistemas políticos menos livres e menos democráticos pelo simples facto dos respectivos chefes de Estado não serem eleitos directamente pelo povo ou pelo parlamento cada quatro ou cinco anos. É óbvio que não! Só o será por preconceito ideológico legítimo mas tacanho q.b..

9.11.07

O Tempo dos Humanos

Este Verão que se arrasta Outono dentro começa a fazer as suas mossas. Não me refiro às ameaças de seca e aos incêndios florestais fora de época, como se fosse a primeira vez em décadas que um Verão, que não chegou quando supostamente devia, decide instalar-se confortavelmente no sudoeste europeu nos meses de Outubro e Novembro. Refiro-me, isso sim, à ansiedade que provoca nos nossos concidadãos e que, em vez de gozarem os últimos dias de um bom tempo que não tardará muito em deixar-nos (só não sabemos quando nem como), passaram a andar por aí meios loucos e capazes de cometerem algumas pequenas ou grandes barbaridades. Senão veja-se o índice de sinistralidade rodoviária contabilizado no último par de semanas. Há atropelamentos mortais, despistes e choques frontais como se caíssem trinta ou mais litros de chuva por metro quadrado cada dia, as estradas à noite e de madrugada estivessem repletas de gelo ou o nevoeiro não nos permitisse ver mais do que dois palmos à frente do nariz. Em vez de desfrutarmos do Verão que S. Martinho generosamente nos enviou, comportamo-nos ao volante como se sobre nós tivesse caído uma tempestade idêntica aquela que cavalgou o Mar do Norte e as suas margens nas últimas horas.

6.11.07

O Rei Juan Carlos I, o Presidente Zapatero, a Espanha e o Marrocos.

Foto: Bandeira de Ceuta
As visitas do rei Juan Carlos e de Dona Sofia a Ceuta (ontem) e a Melilla (hoje) merecem atenção e cuidados por gerarem dúvidas e inquietações. Em ambos os enclaves rei e rainha foram recebidos por milhares de pessoas aos gritos de "Viva España!", enquanto no Marrocos as autoridades nacionais punham publicamente em causa, e em termos razoavelmente violentos, a legitimidade da soberania de Madrid naquelas duas praças, comparando-as até à situação dos territórios da Palestina ocupados por Israel.
As visitas, que nunca tinham acontecido desde que a democracia foi instaurada em Espanha após a morte de Franco, eram uma reivindicação das populações e das autoridades daqueles territórios. Dona Sofia e o rei nunca tinham aceite os convites que lhe eram dirigidos pelas autoridades das duas cidades pela simples razão de que a sua presença despertaria indesejáveis fantasmas marroquinos e coloniais. Mas, e sobretudo, pela simples razão de que em nenhum momento dos seus mandatos Suarez, González ou Aznar necessitaram de ir tão longe, enviando os reis ao Marrocos espanhol, para manifestarem a sua dedicação a Espanha e o seu empenho na unidade do Estado. Em vésperas de eleições legislativas, e com uma governação manchada pelas absurdas cedências feitas aos nacionalismos e aos regionalismos, é natural que Zapatero arrisque tanto na relação de Espanha com Marrocos para tentar ganhar alguma credibilidade numa área em que cedo desperdiçou, junto do eleitorado moderado, um pouco capital que no início do seu mandato naturalmente possuiu. Resta apenas saber se, e apesar das aparências, a visita do rei e da rainha a Ceuta e a Melilla foram combinados com a monarquia marroquina e que preço pagarão espanhóis – nomeadamente os que vivem e trabalham naquelas duas praças fortes – por terem finalmente recebido aos gritos de “Viva España” el-rei Juan Carlos e Dona Sofia. Resta também saber se a Casa Real conhece os termos de uma muito provável transacção.

O Debate Orçamental

O debate sobre o orçamento geral do Estado está a deixar o primeiro-ministro em estado de grande excitação. Acha que são favas contadas. É capaz de ter razão! Afinal a primeira intervenção de Santana Lopes foi de bradar ao céus. E a segunda também. E como diz Flor Pedroso: "de orçamento nada".

Ridículo!

Foi grave e trágico o acidente da noite passada na A23. Mas é ridícula a cobertura do acontecimento feita pelas televisões nas últimas 18 horas. Repetitiva, redundante, patética, superficial, lamechas, enjoativa. Como se não bastasse, a SIC entrevistou hoje, por voltas da 13,30 h, uma vítima internada num hospital, deitada na cama da enfermaria e com uns tubos enfiados pelo nariz. E não me digam que é por causa das audiências. É pura e simplesmente ridículo!

O Decote e o Tule

O trágico acidente na A23 deu-nos a conhecer mais uma governadora civil rosa. Não pergunto onde é que as vão desencantar, por só me ocorrer uma qualquer distrital ou concelhia do PS que por fatalidade da vida político-partidária portuguesa nas últimas décadas não pode merecer qualquer respeito.
Mas vale a pena perguntar porque razão evoco eu aqui a excelsa senhora. Não, não é pelo (des)penteado. Faço-o por causa da "blusa". Uma "blusa" preta, aparentemente de seda barata e enxovalhada com uma tira de tule também negro sobre um decote onde se insinua um peito que talvez, há uns trinta ou quarenta anos, merecesse tal cuidado e atenção por parte de quem se vestia e de quem via.
É um denso mistério que uma governadora civil se possa vestir daquela maneira. Será que o fez já consciente de que havia vítimas mortais no acidente de viação ocorrido no seu distrito? Ou será que veio directamente para a frente das câmaras de televisão de um qualquer evento social onde, certamente, estaria entre as mais mal vestidas?

4.11.07

Estradas de Portugal?

O relatório ("preliminar"?) que o Tribunal de Contas produziu sobre a situação financeira calamitosa em que encontra as Estradas de Portugal (sucessora da tristemente célebre Junta Autónoma das Estradas que Cravinho tentou pôr na ordem nos tempos do defunto Guterres) é mais do que aquilo que aparenta. Será politicamente e aparentemente muito útil à oposição e terrível para o PS e para o Governo no debate sobre o Orçamento Geral do Estado que aí vem. Por outro lado, fragiliza ainda mais politicamente o ministro Mário Lino. Ora este ministro só interessa e só tem interessado por causa da construção do novo aeroporto de Lisboa. Quem, portanto, ganha com um ministro das Obras Públicas fragilizado, ou até na rua, no momento da escolha da localização de um novo aeroporto internacional que sirva a capital do país e o seu entorno e que poderá – talvez – não ser a Ota? A Sócrates, com certeza! Ou não?

2.11.07

Empate que sabe a vitória!


"Os Belenenses" empataram esforçada, mas naturalmente, no Estádio do Dragão com o líder da 1.ª Liga, o Futebol Clube do Porto. Para a semana há mais!

Coincidências e Desconfiança

Um trágico acidente hoje em Lisboa ao princípio da manhã fez dois mortos e um ferido em estado muito grave. Abriu assim hoje, às 9 horas, a TSF o seu noticiário. Logo a seguir vinha uma notícia que dava conta de que o Ministério da Administração Interna se encontra a estudar um proposta feita por uma empresa de marketing, segundo a qual os automóveis deveriam, ou poderiam, passar a circular com um dístico bem visível que classificava o grau de “perigosidade” do condutor. Além do absurdo da proposta que radica, desde logo, no facto de não haver automóveis perigosos mas sim condutores perigosos e da questão deste tipo de “dísticos” ter na Europa uma história no mínimo triste e trágica, fica ainda a ideia de que a notícia sobre o "estudo" e os “dísticos” e o destaque dado à notícia sobre o acidente não são inocentes. De facto, há coincidências que só os jornalistas e as centrais de informação do Governo conhecem mas que, infelizmente, não passam ao lado de quem pela manhã ouve telefonia enquanto se barbeia.
Ou então, não passo eu de um pobre português desconfiado que ajuda a colocar o nosso país em segundo lugar no ranking dos países em que menos se confia nos outros, sejam eles pessoas ou instituições.

31.10.07

Sentença

O veredicto do tribunal de Madrid sobre os atentados de 11-M deixou Zapatero esfusiante mas um cidadão anónimo como eu absolutamente estupefacto. E por um conjunto muito simples de razões. O veredicto é "ouro sobre azul" para a política interna e externa espanhola, e não apenas por que rejeita a velha teoria de que a ETA teria tido alguma coisa que ver com os atentados. O facto do "egípcio" ter sido considerado inocente, de apenas três "arguidos" terem sido condenados a pena máxima e de uma boa parte ter saído em liberdade significam uma de duas coisas. Ou a investigação foi mal conduzida e/ou as acusações mal pronunciadas, ou então o tribunal não foi independente e redigiu uma sentença light que apazigua a opinião pública "árabe" em Espanha e no exterior evitando incómodos e dificuldades mais ou menos sérias ao governo socialista.
Certo é que a sentença não foi um ponto final no caso – provavelmente nunca poria – e suscita muitas perguntas e uma desconfiança clara, reforçando a ideia de que também em Espanha o poder judicial não é independente do poder político.

30.10.07

O Livro


Folheei hoje numa livraria o último romance de Miguel Sousa Tavares, cujo título não fixei. Pareceu-me excelente para quem sofra da vista e péssimo para quem tenha problemas de coluna.

26.10.07

Joaquim Chissano tem uma biografia política.

Joaquim Chissano foi há dias proclamado vencedor da primeira edição do prémio Mo Ibrahim que pretende premiar a boa governação em África e, entre outras coisas, o desapego pelo poder demonstrado pelos vencedores, neste caso por Chissano.
Conviria no entanto recordar - embora não aos outorgantes do prémio que sabem bem aquilo que andam a fazer -, que Chissano tem uma longa biografia política que o faz cúmplice e fautor de governos e de uma governação da FRELIMO que liquidou voluntariamente, em nome do "marxismo", da "revolução" e do "socialismo" (é verdade que podia ter sido em nome de outra coisa qualquer), a vida de muitas centenas de milhar de moçambicanos. É certo que hoje em dia estes pormenores da história não interessam nada. Mas ainda assim eu gostava, ao menos, que acontecessem duas coisas. Em primeiro lugar, que Chissano explicasse qual foi o seu papel na política genocida que a FRELIMO levou acabo em Moçambique em boa parte das décadas de 1970 e 1980. Em segundo lugar, que pedisse desculpas aos moçambicanos e ao mundo pelos crimes cometidos por governos moçambicanos de que fez parte ou a que presidiu. Depois que lhe dêem lá o prémio, não sendo má ideia que Chissano distribua os milhões de Euros que vai receber por instituições que em Moçambique poderão andar a tentar tratar das vítimas moçambicanas daquela que foi, a todos os títulos, uma independência exemplar.

24.10.07

Duas Notas

Sobre o 2.º episódio de "A Guerra" transmitido ontem na RTP, apenas duas notas.
A primeira, para sublinhar que o fracasso da "abrilada" conduzida por Botelho Moniz e Costa Gomes foi uma bênção para Portugal, apesar de ter tornado inevitável a guerra colonial (ou, sobretudo, por ter tornado inevitável a guerra colonial). Instigada pela Administração Kennedy e contrariada pela vontade de Salazar, Américo Tomás, Kaulza de Arriaga e Adriano Moreira, o triunfo dos "ultras" sobre os "reformadores" do regime, evitou a "latino-americanização" do país. De facto, Kennedy e os seus "rapazes" pensavam que podiam determinar a vida política portuguesa em 1961 (através de um golpe militar e, um mês antes, com o apoio dado ao terror da UPA no norte de Angola), do mesmo modo que outras administrações norte-americanas se tinham habituado a influenciar os destinos de boa parte dos países latino-americanos desde o século XIX. Irónico é o facto de Kennedy ter fracassado em Lisboa em Abril de 1961 e em Angola um mês antes, da mesma forma que, com a CIA e os famosos exilados cubanos, fracassou na Baía dos Porcos na terceira semana de Abril de 1961.
Uma segunda nota para o facto de um terrorista da UPA, entrevistado por Joaquim Furtado, condenar, iniciada já a guerra em Angola, o bombardeamento indiscriminado, pela Força Aérea Portuguesa, do "mato" angolano, e do qual decorria a morte de muitas mulheres e crianças que no "mato" naturalmente viviam. Ora este terrorista era exactamente a mesma personagem que, no episódio anterior, achava absolutamente legítimo que a UPA tivesse assassinado a sangue frio, olhos nos olhos, na sua ofensiva de Março no Norte de Angola, milhares de mulheres de velhos, mulheres e crianças brancas, mestiças e pretas. Palavras para quê?

19.10.07

Para que serve um atentado?

Se há país saído da vaga independentista do pós-Segunda Guerra Mundial que está longe de encontrar o seu caminho, esse país chama-se Paquistão. Várias vezes à beira da guerra civil, testemunha de inúmeros golpes militares, terra de ditaduras militares corruptas e bestiais, de experiências democráticas fracassadas, de uma guerra de secessão, de umas quantas com a União Indiana, de terrorismo e radicalismo islâmico, o Paquistão voltou ontem a ser notícia pelas piores razões. Um atentado matou umas 130 pessoas que festejavam o regresso do exílio de Benazir Bhutto. Como se isto não bastasse, e não apenas pelo simples facto do dito atentado não ter sido reivindicado, enquanto o Governo paquistanês aponta o dedo aos radicais islâmicos, o quase viúvo de Benazir Bhutto veio dizer que os responsáveis pela matança não poderiam ser outros senão os serviços secretos paquistaneses. Já só falta alguém jurar que tudo não passou de uma orquestração pensada e executada pelos apoiantes da recém-chegada. Afinal, e como se sabe, nada melhor do que um atentado - seja ele qual for - para que a candidata a primeira-ministra nas próximas eleições legislativas possa vir a ter mais e maiores possibilidades de conquistar um bom resultado.

Jornalismo militante que é "jornalismo de sarjeta"

Quando ontem (que já era hoje) me deitei, depois de ver um episódio de House na TVI, fi-lo informado sobre a boa nova. O novel tratado, ou tratado rectificado, da União Europeia fora aceite pelos representantes dos 27 e seria assinado numa conferência a realizar na capital portuguesa durante o mês do Natal.
Hoje acordei com a notícia na RTP 1 e com António Esteves Martins fazendo, nos detalhes, nas pequenas histórias, propaganda descarada ao tratado, ao nosso Governo, ao seu líder, à Comissão Europeia e a José Manuel Barroso. Fiquei sem saber, valha a verdade, se o "jornalista" informa ou dá opinião e, sobretudo, se trabalha para um órgão de informação público ou para o Governo português e para a Comissão Europeia (desconfio, no entanto, que é tudo a mesma coisa). Ou claro, se apenas ignora as regras básicas que, supunha, e suponho, regulam a sua profissão.
Já agora, e para terminar, fico à espera que me expliquem no que é que o novo tratado de Lisboa contribuirá para melhorar a minha vida e a dos meus e que me deixem aprovar ou rejeitar em referendo o muito importante documento.

O detalhe do tratado "rectificado" de Lisboa

Foi realmente foi "porreiro" que os chefes de governo dos não sei quantos países que neste momento compõem a União Europeia aprovassem e se comprometessem a assinar, no próximo mês de Dezembro, um novo tratado "rectificado" de Lisboa. Só falta agora a "ratificação" do mesmo por Parlamentos ou por via referendária durante o ano de 2008. Um pequeno detalhe, portanto. Ora, como dizia ontem António Vitorino na TSF, o "diabo está nos detalhes". É certo que já não na negociação mas na “ratificação”. Em resumo, ainda é muito cedo para lançar foguetes.

18.10.07

Um deserto ao virar da esquina

Foto: Dunas no deserto da Namíbia.
Não parecendo nem sendo excessivos os riscos de inflação na zona Euro - e até mesmo que o fossem - certo é que a moeda europeia não pode continuar como está, valorizando-se cada dia um pouco mais nos mercados internacionais, sobretudo face ao dólar. Ou o BCE desce as taxas de juro, acompanhando a estratégia da Reserva Federal norte-americana, e a moeda europeia reduz o ritmo da sua valorização nos mercados internacionais, ao mesmo tempo que o investimento e o crescimento económico recuperarão, ou dentro de três ou quatro anos tudo quanto é indústria - em sentido lato - na Europa poderá não passar de uma recordação.
Esperemos, portanto, que o BCE seja realista e pragmático, e meta na gaveta a sua ortodoxia monetária tão impregnada de ideologia. É que certamente, e mesmo que forma indirecta, o BCE deverá continuar a gerir uma economia e não um deserto.

Onde fica Cañada Real?

Em Cañada Real, nos arredores de Madrid, a polícia tentou hoje demolir um edifício clandestinamente construído. O resultado foi mais de uma vintena de feridos, na sua grande maioria polícias, fruto de uma reacção extremamente violenta por parte daqueles que se opunham à dita demolição por viverem no dito edifício ou noutros das cercanias construídos igualmente num regime de ilegalidade.
Segundo testemunhos a cena mais parecia uma “infitada” – o que pude comprovar ao ver as imagens do acontecido na TVE Internacional. E era uma “infitada” pela simples razão de que não só se tratava de uma reacção orquestrada por cidadãos marroquinos imigrados em Espanha, mas por os súbditos de Mohamed VI não terem hesitado em usar armas brancas, bilhas de gás, pedregulhos, tijolos, armas de fogo ou telhas num confronto com a polícia que preparam ao mínimo pormenor. Mas era ainda uma “infitada” pelo facto de, para impressionarem e conquistarem a opinião pública espanhola (e internacional?), usarem indiscriminadamente bebés, crianças, idosos e mulheres grávidas como escudos contra uma acção policial legal e legítima.
De tudo isto, e por agora, só retiro duas conclusões:
Que nos habituemos a este tipo de atitudes que não são mais do que uma tentativa para impor aos madrilenos (autoridades e cidadãos), de forma ilegal, violente e ilegítima, os seus hábitos de vida.
Que as autoridades espanholas, ou quaisquer outras por esta Europa, que se confrontem com situações com esta gravidade, não hesitem em aplicar a lei até às últimas consequências ou até em modificá-la, caso seja necessário. Devem fazê-lo ao ponto de permitir, acelerar e facilitar a expulsão de gente que não sabe ou, sobretudo, não quer comportar-se segundo normas e princípios sufragados em democracia e em liberdade.
Foto: www.elmundo.es com pormenor de "chabolas" em Cañada Real.

Duelo

Tanto quanto percebi, Santana Lopes vai hoje à noite à SIC Notícias dar uma entrevista em directo. Alguém sabe por é que vai andar o José Mourinho a essa hora?

17.10.07

Os Despojos da Aliança


Sexta-feira, às seis da tarde, na casa Fernando Pessoa em Campo de Ourique, vai ser lançado o livro de Pedro Aires de Oliveira intitulado Os Despojos da Aliança. O livro será apresentado por José Medeiros Ferreira. Apareçam porque o autor e livro merecem e a editora também.

Guerra Colonial

Começou bem o programa de Joaquim Furtado na RTP sobre os 13 anos da guerra colonial que portugueses e africanos, nos dois lados da barricada, combateram em África entre 1961 e 1974. Na economia do 1.º episódio pareceram-me particularmente importantes dois acontecimentos, tendo sido um deles revelado por Holden Roberto, líder da UPA e, depois, da FNLA. Um e outro acontecimento valem por porem seriamente em causa as leituras lineares e simplistas que existem sobre o conflito e da política colonial portuguesa nos últimos anos da história do Estado Novo.
Senão vejamos. Holden Roberto confessou que não só os massacres iniciados em Março de 1961 foram planeados durante nove meses e executados de acordo com o planeado, como nunca teriam acontecido caso não tivessem sido fomentados por países terceiros, a começar pela Tunísia. Entre outras revelações interessantes, e algumas delas desconhecidas para mim, Holden Roberto confessou que foram tropas tunisinas, pertencentes ao contingente da ONU estacionado no antigo Congo Belga, a entregar armamento à UPA. Este armamento seria usado para massacrar homens, mulheres e crianças, brancas, pretas e mestiças na metade norte do território angolano e, ainda, para alimentar uma guerra de guerrilha durante vários anos. É claro que muitas outras armas iriam os homens da UPA/FNLA receber com o arrastar do conflito e das mais variadas proveniências. No entanto, o primeiro passo tinha sido dado.
Em segundo lugar, o documentário mostrou-nos claramente que o colonialismo de Salazar e do regime era, em 1961, pouco mais do que retórico. Mas mostrou-nos, acima de tudo, que a determinação de ficar na sequência dos massacres não foi uma imposição feita por um regime e por um governo a um país e ao seu povo. Angola continuou sob soberania portuguesa depois de Março de 1961, e em primeiro lugar, por determinação e vontade dos colonos portugueses que o governo de Salazar, ao contrário dos golpistas fracassados da "abrilada", não quis ou não pôde contrariar nas suas intenções. De facto, não tivesse havido por parte dos colonos uma resposta militar e política aos ataques da UPA, Angola teria caído às mãos de milhares de mãos e mentes criminosas. E era justamente com isto que nem a UPA nem os seus apoios internacionais, que incluíam os EUA, contavam.

16.10.07

Pequeno Almoço

Meia papaia, café com leite magro, uma fatia de pão com manteiga e uma fatia de pão com "doce" de frutos silvestres. Amanhã há mais!

14.10.07

O que fazer com a presidência?

Foto: expresso.clix.pt
Se há coisa que se pode perceber deste XXX Congresso de PSD é que o líder recentemente eleito não tem nem autoridade, nem estratégia, nem argumentos tácticos. Ou seja, ainda agora ganhou a presidência do partido e não sabe o que fazer com ela. É claro que "isto" também demonstra quão frágil foi, politicamente, a sua vitória.

11.10.07

O Déficit


O déficit das contas públicas, anunciou hoje José Sócrates, poderá ficar pelos 3% do PIB, ou até uma décima ou duas abaixo. Tirando os do costume, para já ninguém parece rejubilar. Nem mesmo no Governo. Vejam-se os rostos fechados de alguns ministros depois de dada e comentada a boa nova. Leiam-se ou ouçam-se as palavras de Cavaco Silva. Se temos boas notícias e ninguém se sente feliz ou aliviado com elas é porque alguma coisa corre mal. O que será?

Apagar a História

Para o bem ou para o mal, foram os "nacionais" que ganharam uma guerra civil em Espanha que durou quase três anos. De há uns anos para cá, uma parte da sociedade espanhola não pretende apenas que seja feita justiça às vítimas da violência “nacional” que acompanhou aquela guerra civil e, depois, dos crimes que se revelaram umas vezes essenciais, outras dispensáveis, para consolidar o franquismo.
Essa parte da sociedade espanhola quer, e pensa que pode, ganhar a guerra civil 60 ou 70 anos depois. Pretende fazê-lo de várias formas. Mas também apagando da vida pública espanhola aquilo que resta de cerca de 40 anos da história de Espanha no século XX, por mais sombrios que os possamos considerar. Aliás, não foram apenas sombrios esses 40 anos de franquismo, porque todas as ditaduras sempre tiveram, e ainda têm, zonas de luz e de sombra.
Essa parte da sociedade espanhola pretende um ajuste de contas com os vencedores e, sobretudo, retomar a história de Espanha em Julho de 1936, o que, aliás, nunca será mais do que um regresso ao ambiente de violência feroz que conduziu ao pronunciamento militar fracassado daquela data e subsequente guerra civil. Como se pode constatar facilmente esta atitude é mesquinha e, sobretudo, muito grave, porque está a reintroduzir em quase todos os quadrantes políticos um radicalismo de palavras e uma violência de gestos que não auguram nada de bom. Ou seja, e basicamente, está-se a destruir o consenso em torno da “transição pactuada” que conduziu à Espanha que conhecemos até ao dia em que Zapatero e o PSOE ganharam as eleições legislativas, mas que já germinava nos quatro anos que durou o último governo de José Maria Aznar.
Sendo a Espanha o único Estado com o qual temos fronteira terrestre desde que o nosso império colonial se foi, devemos estar atentos e preocupados com aquilo que se passa aqui ao lado, para além do terrorismo da ETA e do triste fenómeno dos nacionalismos, seguros porém de que o futuro nada trará de bom, arriscando-se a Espanha a regressar à instabilidade política e social endémica que conheceu desde o início do século XIX até ao momento em que se aprovou a Constituição que (ainda) vigora. Àqueles que pensam que a prosperidade económica evitará o pior, apenas me ocorre dizer-lhes que não conhecem nada da história de Espanha nem da história da Europa.
Como seria de esperar, há em Portugal quem aprecie uma lei perversa publicada recentemente em Espanha, uma lei dita da "memória histórica", e que se caracteriza, entre muitos outros aspectos, alguns deles louváveis, por impor que sejam retirados dos espaços públicos praticamente tudo aquilo que evoque os tempos do franquismo, como se este nunca tivesse existido e não tivesse, por exemplo, merecido o apoio empenhado e convicto de milhões de espanhóis. No fundo, aquilo que se aplaude no apagar uma certa memória histórica do franquismo é, nada mais nada menos, do que a utilização dos velhos mas conhecidos métodos estalinistas de subtracção à história daqueles que foram seus protagonistas e, mais ainda, num dado momento, os vencedores da história. Por isso, quando em Espanha se prepara a retirada do espaço público de toda a iconografia que possa ainda recordar ou evocar o franquismo, está-se a proceder da mesma forma que Estaline e os seus lacaios procederam ao ter subtraído sucessivamente da história da Revolução Bolchevique e dos primeiros anos da União Soviética os Trotskis, os Zinovievs, os Kamenevs ou os Bukarines. Trata-se, portanto, de uma imbecilidade, de um crime e de um absurdo que não se limita a envergonhar a democracia. Está a corrompê-la e a destruí-la. Mas enfim, e valha a verdade, é bom recordar que muitos daqueles que lutaram contra o franquismo e por isso morreram, durante e depois da guerra civil, odiavam-na tanto ou mais a democracia do que os seus verdugos. O mesmo pode ser dito em relação a muitos daqueles que aplaudem esta lei ou até a consideram excessivamente moderada. E isso é muito preocupante.

História e Petição


A revista História, com a qual, diga-se, colaboro pontualmente com gosto e orgulho, vai fechar. A não ser com o recurso a uma modesta mas bem montada ofensiva de venda do produto junto de instituições privadas que vejam com bons olhos associarem o seu nome e o seu dinheiro a uma revista que, penso, não envergonha ninguém, a História passará à história. Não será nenhum drama. Mas será uma pena, sobretudo se, rapidamente, não vier uma outra, com tanta ou mais qualidade, ocupar o seu lugar. Entretanto, apelo a que se assine esta petição on-line. Eu fi-lo. Há sempre uma primeira vez para assinar uma petição. Sobretudo quando é tão prosaica.

Comemorar a República


Excelente o texto de Rui Ramos no Público, e entretanto reproduzido no blogue Atlântico, acerca da loucura que será, se é que já não é, pretender comemorar bovinamente (a expressão é minha) o 5 de Outubro de 1910. Suspeito, porém, que este não será o seu derradeiro texto sobre o tema. Assim o augura o modo como se continuam a preparar as comemorações oficias do 1.º centenário da implantação da República.

Doris Lessing

Doris Lessing foi hoje “galardoada” com o prémio Nobel da Literatura. Conheço pouco daquilo que escreveu e apenas em traduções portuguesas que não me desiludiram. Do que li está lá, justamente, um olhar crítico, mas também analítico, sobre o mundo que nos rodeia e aquilo que desafortunadamente somos ou podemos ser em qualquer tempo ou lugar. Aprecio o seu pessimismo esclarecido e invejo, no bom sentido, a vida tranquila, banal e recolhida que tem levado nas últimas décadas mas que, no entanto, não a impede de se pronunciar sobre o estranho mundo em que vivemos - ou melhor, em que sempre vivemos.
Dando uma vista de olhos pela imprensa on-line depois de ter sido conhecido a quem fora atribuído o Nobel da Literatura deste ano, deparei-me com uma entrevista dada por Lessing ao El Mundo e na qual produziu estas duas belas e curtas respostas a um par de perguntas que muitas vezes se fazem aos mais velhos e às mulheres preocupadas com estado da chamada "condição feminina".
"Pregunta.- El próximo mes cumplirá 87 años. Supongo que, de vez en cuando, echa la vista atrás... ¿Qué ve entonces?
Respuesta.- Todo aquello tan espantoso que había cuando era joven ha desaparecido. Todo eso que parecía permanente: Hitler, Mussolini, la Unión Soviética, el Imperio Británico, todos los países europeos que eran imperio, el racismo en Estados Unidos, Franco... Se han ido...
[…]
P.- ¿Cuál es el papel de la mujer a estas alturas?
R.- El rol de la mujer ahora y siempre será el de tener hijos.
P.- Algo cambiará alguna vez... R.- Tenemos que seguir teniendo hijos, ¿no? ¿Y cómo vamos a cambiar eso?"

9.10.07

O Insulto

O primeiro-ministro insiste na ideia de que os portugueses podem fazer manifestações de protesto político, mas não podem insultar. No caso, não o podem insultar sobretudo a ele, uma espécie de messias dos tempos pós-modernos. Sobre isto ocorre-me dizer, e em primeiro lugar, que não sei onde é que Sócrates foi buscar esta ideia peregrina de que a democracia proíbe, ou deve proibir, o insulto democrático e livre do povo aos políticos e, especialmente, aos chefes de Governo. Em segundo lugar, Sócrates poderia eventualmente pedir que os portugueses não o insultassem no caso dele não insultar os portugueses. Ora qualquer pessoa minimamente atenta já percebeu há um bom par de anos que Sócrates não tem feito outra coisa desde que ganhou as eleições legislativas que não seja insultar os portugueses. E não me refiro apenas ao permanente insulto à inteligência dos seus concidadãos muito típico da classe política. Refiro-me ao insulto gratuito que Sócrates permanente lança sobre esta mesma classe política (vejam-se os debates parlamentares), sobre grupos profissionais e sociais, além, claro está, do insulto ao bom senso e à boa educação que manifestamente desconhece. Além disso, e até prova em contrário, até parece que não o incomoda que muitos colegas seus de governo e camaradas de partido não parem de, também eles, insultar os portugueses tanto por palavras como por actos.

8.10.07

Combate à Corrupção

O PS Madeira quer que se investigue a "corrupção", claro está, no arquipélago da Madeira. O PS do continente, segundo João Cravinho, não quer que se investigue qualquer corrupção que mexa com interesses instalados e bem instalados, a começar por aqueles que se entranharam no Estado nas últimas três décadas. Esta diferença de atitudes, entre o PS da Madeira e o PS do continente, é a diferença entre estar ciclicamente no poder e nunca ter lá estado (já agora o que pensará o PS dos Açores sobre “corrupção”). De qualquer modo, e caso se corresse com o bloco central do poder do Estado, dos governos regionais e das autarquias e ver-se-ia como PS e PSD se indignariam muitíssimo, genérica e especificamente, com a chaga da corrupção.

5.10.07

Não passamos disto.

Foto: Barragem da Aguieira.
Ao anunciar ontem a intenção de construir dez barragens, o Governo Sócrates revelou pela enésima vez a sua vertigem propagandistica. E andamos nisto, não passamos disto.

4.10.07

Joaquin Sabina: "19 dias y 500 noches"

A primeira de uma triologia. Por nenhuma razão em especial. Hoje sinto-me mais espanhol. Não há coisa mais portuguesa?

Joaquin Sabina: "Noches de Boda"

Vídeo cortado, mas canção excelente. Tal como a interpretação.

Joaquin Sabina: "y sin embargo te quiero"

Causa de Morte: Homícidio ou Suicídio?

É claro que não é apenas por causa deste ou daquele episódio que merece uma maior atenção dos media, mas o regime está a afundar-se a um ritmo impressionante. Para além de muitos factos aparentemente menores, houve e há as fugas de Barroso e Guterres, a governação de Santana Lopes e a de Sócrates. Vieram recentemente as eleições "directas" para o PSD e, hoje, uma entrevista a João Cravinho que a Visão publica e o Público on-line resume. Vejam-se, por exemplo, estas afirmações de Cravinho sobre a qualidade moral e a verticalidade ética de quem governa em nosso nome:
“O presidente do grupo [Alberto Martins] disse que o fenómeno [da corrupção] existia, mas que Portugal não estava numa situação particularmente gravosa. Pelo contrário, nas comparações internacionais estava muito bem. Fiquei [João Cravinho] de boca aberta”.
Ou ainda: “Foi dos maiores choques da minha vida ver que aquela matéria causava um profundo mal-estar, era como um corpo estranho no corpo ético do PS. Apesar de algumas dificuldades que antevia, não contava com uma atitude de absoluta incompreensão para a natureza real do fenómeno da corrupção."
Estamos, definitivamente, conversados. Ver-se-á depois aquilo que virá escrito na certidão de óbito do regime.

1.10.07

Aniversário

Quem sou eu para recomendar o que quer que seja a alguém, nomeadamente o consumo de "bens culturais". Penso que nunca o fiz em nenhum dos posts que escrevi aqui ou no "amigo do povo". Não é por isso que deixo de ter quase sempre curiosidade em conhecer as opiniões dos outros sobre as recomendações que fazem, sobretudo quando se trata de livros.
No entanto, e como há sempre uma primeira vez, a propósito do 90.º aniversário da Revolução Bolchevique (é já a 7 de Novembro), aconselharia aqueles que me lêem e que confiam na minha opinião e em algum conhecimento que tenho sobre a história da revolução bolchevique – ou bolchevista como penso ser mais correcto dizer em português de Portugal –, que se atrevam a ler os dois volumes escritos por Richard Pipes sobre a dita, suas origens próximas, a etapa inicial da história do comunismo na Rússia (ou seja, até morte de Lénine) e o advento do fascismo na Europa. É justamente do segundo volume desta história que apresento uma das suas várias capas ali à vossa (nossa) esquerda. Para aqueles que tenham menos tempo e, mesmo assim, queiram conhecer as grandes teses historiográficas em torno do advento do comunismo na Rússia, é sempre possível ler ou este ensaio sobre as três revoluções russas (Fevereiro e Outubro de 1917 e a revolução estalinista) ou uma edição abreviada dos dois volumes previamente citados.
Se, no entanto, mais do que uma obra escrita por um historiador, aqueles que me lêem preferem degustar um excelente pedaço de prosa sobre a dita revolução, nada como ler Leon Trotsky e a sua História da Revolução Russa. Além de boas edições em língua inglesa, penso existirem também traduções francesas e espanholas. Haverá alguma brasileira?
Já agora, e como devem ter percebido, os vídeos à direita são sobre a revolução bolchevista. Excertos de obras cinematográficas de propaganda que, talvez por isso mesmo, sempre me pareceram excelentes. Ou não tivesse eu chegado ao audiovisual através da publicidade televisiva. Sim, porque há trinta e tal anos, eram os reclames que me deliciavam na TV a preto e branco, com um só canal, ainda por cima público.