31.7.08

Três grandes cabeças comentadoras do regime que temos - Sousa Tavares, Bettencourt Resendes e Carlos Magno - não perceberam, ou fizeram que não perceberam, a relevância da comunicação que Cavaco Silva fez hoje ao país por causa das questões políticas sérias que suscita o novo estatuto autonómico dos Açores e no qual, valha a verdade, ninguém tinha, aparentemente, reparado. É pena esta desclassificação a três, porque aquele novo estatuto pretende mudar a arquitectura do regime – nomeadamente mexendo em poderes do presidente da República sem que antes se altere, como se poderá fazer na Assembleia da República, a Constituição.
Por outro lado, convém recordar que a saúde de um país não se mede apenas pelo estado da economia ou das finanças públicas e pela percentagem de desempregados, temas sobre os quais Cavaco Silva tem pensamento e preocupações que já manifestou mais do que uma vez.
Há depois outras leituras que se podem fazer sobre as razões de Cavaco Silva. Mas por agora fiquemos por aqui na certeza de que os verdadeiros problemas na cada vez mais difícil relação entre o Estado e as autonomias nunca começou nem acabou na Madeira, no PSD-Madeira e em Alberto João Jardim. Por isso, hoje ao jantar houve quem se visse obrigado a engolir uns quantos sapos e passará o serão com copos de digestivos na mão.

Les beaux esprits s’encontre?


O governo regional da Madeira prepara-se para passar a regular administrativamente os preços dos combustíveis naquele arquipélago. Aguarda-se com expectativa o apoio do Bloco de Esquerda a esta medida. Apoio esse que não pode deixar de parte a realização de uma manifestação de desagravo a Alberto João Jardim encabeçada por Louçã, Fazenda e as senhoras deputadas do estrénuo grupo parlamentar da mais esquerdista de todas as formações políticas portuguesas.

30.7.08

Caminhos da Memória




O blogue "caminhos da memória" tem vários méritos. Mas o maior é recordar-nos, à medida que atentamente o vamos percorrendo, que a primeira e a única vez que os portugueses estiveram à beira - mesmo à beira - de viver num país onde vigoraria um regime totalitário, foi no ano e meio que se seguiu ao 25 de Abril de 1974.

Magalhães

29.7.08

A "Madeirização" dos Açores.

O "chumbo", pelo Tribunal Constitucional, de oito artigos que compõem o novo estatuto autonómico dos Açores é, no imediato, uma importante derrota política e pessoal para Carlos César. Vejamos agora de que forma o presidente do Governo Autónomo dos Açores poderá e saberá fazer das suas fraquezas forças e transformar o triunfo de "Lisboa" numa vitória de Pirro.
Mas note-se, sobretudo, como os Açores e Carlos César estão cada vez mais no conteúdo, e talvez também na forma, próximos da Madeira e de Alberto João Jardim.

25.7.08

Santiago Apóstolo


O mês de Julho é o mês de Santiago. Hoje foi dia de Santiago apóstolo e em Santiago de Compostela houve, e ainda há, contemplação, luz e festa.

24.7.08

Frivolidades aparte, como foram as referências ao imprescindível empenho dos EUA na luta contra o "aquecimento global" ou à necessidade do derrube dos “muros” que separam países, raças e religiões, Obama foi a Berlim – e à Europa –, fazer um discurso perante 200 mil almas em que pediu mais tropas para combaterem no Afeganistão contra os talibãs e demais terroristas.
Só me pergunto, descontando o eleitoralismo presente nas palavras e nos actos de Obama nesta sua excursão europeia, se ninguém lhe explicou que à Europa e aos europeus a última coisa que se pode pedir são mais tropas e mais dinheiro para as manter em combate…
Por isso, tenho para mim que o homem sabe ao que vem e que quando fala em solidariedade europeia para com o esforço militar dos EUA no Afeganistão está apenas a pensar em alguns votos que poderá arregimentar para as votações de Novembro próximo e em tentar conquistar o benefício da dúvida entre as chefias militares norte-americanas.
Fora isto, que a digressão se faça e continue… Porém, e partir de agora, sem quaisquer concertos em grandes espaços.

23.7.08

Ambientalismo

O “ambientalismo” é uma mensagem e um programa político-ideológico como qualquer outra ou outro. Como todas as ideologias levadas ao extremo assemelha-se a uma espécie de fanatismo religioso que pretende condicionar ao milímetro a vida de cada mortal. Gostava por isso que a RTP explicasse porque razão, todos os dias, de segunda a sexta, tem um "minuto verde" no seu noticiário matinal.

22.7.08

Cada Cabeça Sua Sentença.


No Porto, habitantes do bairro do Aleixo manifestam-se protestando contra a sua "reinstalação" no centro histórico daquela cidade. Esta tarde, na SIC Notícias um "representante", ou "porta-voz", da comunidade "Romani", reclama a reinstalação dos "mais desfavorecidos", começando pelos "ciganos", no centro das cidades. É definitivamente difícil tentar perceber este pobre país e quem o habita.

20.7.08

Tribunal de Haia

Há para aí um mandato de captura sobre o inenarrável presidente do Sudão. O dito mandato tem origem no Tribunal Internacional de Haia. Só é pena que não haja uma polícia "internacional" capaz de fazer executar o mandato, porque assim fica tudo na mesma. No entanto, e apesar da existência do citado Tribunal ser uma coisa tão difícil de explicar como de perceber, nem percebo a razão pela qual em Haia não se emitem mais uns mandatos inconsequentes. O Tribunal mostrava-se produtivo, justificava os recursos que consome e ficávamos com mais umas certezas em relação a um conjunto de personagens que andam por esse mundo e não são nada recomendáveis. Sendo as coisas como são resta a certeza de que em Haia os procuradores se preocupam agora apenas com aquilo que se passa no Sudão, depois de terem cingido a sua acção à instrução de processos a personagens oriundas da antiga Jugoslávia. E claro, sempre observamos as reacções solidárias dos amigos “árabes” do Sudão e do seu inominável presidente.

Energia Nuclear


Resumo de uma entrevista dada por Marcello Caetano à United Press. Resumo da autoria do primeiro secretário da Embaixada dos EUA em Lisboa, Joseph John Jova.
Speaking of nuclear developments: He [Marcello Caetano] mentioned Portugal’s contribution through its deposits of uranium; he said he was certain that further prospecting now underway under Government auspices would disclose even more important deposits; he hoped that in a short time Portugal would put into operation its first atomic reactor.”
Despacho n.º 468 da Embaixada dos EUA em Lisboa para o Departamento de Estado em Washington. 8 de Março de 1956. GRDS, 1955-1959. Caixa n.º 3409 (753.00(W)/3-856).

A “Discussão”.

Segundo o Público de hoje (20/7/2008), Alberto Martins foi dizer aos jovens socialistas que se preparam para eleger um novo líder, que a “discussão” política sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo deve ficar para depois de 2009. Nada tenho a opor. Mas bom será que a dita “discussão”, que é de natureza civilizacional, não seja varrida para debaixo do tapete durante a campanha eleitoral e que, portanto, todos os partidos digam ao que vão nesta matéria.
Aliás, e já que Manuela Ferreira Leite, como Francisco Louçã, tiveram a oportunidade de dizerem o que defendem no que respeita ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, resta agora saber o que pensam Paulo Portas e, sobretudo, Jerónimo de Sousa e José Sócrates. Se aquilo que pensam Paulo Portas ou Jerónimo de Sousa pouco pode importar caso PS ou PSD vençam as próximas eleições legislativas com maioria absoluta, mais importante é conhecer a posição de Sócrates. É que o seu "sim" ou o seu "não" ao casamento entre pessoas do mesmo sexo pode não apenas tornar Portugal diferente para melhor ou para pior, como pode fazer a diferença entre uma vitória ou uma derrota eleitoral. E isto, mais do que tudo, é que preocupa Sócrates, o PS e a JS e, portanto, pode fazer com que as opiniões sobre o modelo de casamento, de família, de sociedade e de civilização que queremos ter sejam convenientemente escondidas até 2009.
Actualização: Sócrates foi, entretanto, discursar no Congresso da JS. Falou e voltou a falar mas ainda não disse o que pensa sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo e se esta questão estará no programa eleitoral do PS para 2009. Os jotinhas também não lhe perguntaram nada. Devem estar instruídos.

Ponto de Vista

A nova arrumação da economia internacional tem como resultados positivos, e entre muitos outros, o enriquecimento de grandes fatias das populações asiáticas, norte-africanas e da América Latina. O lado francamente negativo está no facto de, por um lado, obrigar o "Ocidente" a reforçar os seus laços económicos e políticos com gente nada recomendável – vejam-se as circunstâncias em que decorreram as recentes visitas de Sócrates a Angola e à Líbia – e, por outro, demonstrar, que o "Ocidente" está cada vez mais fraco e mais pobre. Talvez ainda não em termos absolutos, mas certamente em termos relativos. O mundo está diferente. Resta saber se está melhor. Mas na sua essência nunca uma avaliação deste tipo dependeu tanto, para um ocidental, daquilo que prosaicamente se define como o "ponto de vista".

3.7.08

Que siga a descolonização


Alguns daqueles que acharam, e ainda acham, que a autodeterminação dos povos e a subsequente e inevitável descolonização não podia ser recusada por Portugal até aos saudosos anos de 1974-75, mesmo que essa realidade tornasse Portugal no país inviável que nos últimos 35 anos tem demonstrado ser, abespinham-se hoje por causa da eventual realização, na Madeira, de um referendo que Alberto João Jardim veio propor aos seus concidadãos para que estes se pronunciem sobre o sentido e a evolução futura do estatuto de autonomia daquele arquipélago. Evocam as vozes críticas, agora virgens, a Constituição. Juram que ela impede aquilo que é um acto politicamente legítimo em qualquer democracia. Ora a verdade é que se a Constituição não permite aquilo que é um acto de legítima soberania popular, então que seja mudada para permitir que os portugueses da Madeira decidam até onde é que querem levar a sua autonomia. Se o limite for a independência (e disso Alberto João Jardim não falou), que venha a independência.
Convém talvez por isso recordar que não só os argumentos políticos se combatem com argumentos políticos, mas também que não será por causa da independência da Madeira (ou dos Açores) que Portugal se tornará mais inviável, ao mesmo tempo que todos sabemos que a Madeira será sempre bem mais factível do que Timor-Leste, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Guiné-Bissau e, ao menos nos próximos 25 a 50 anos, do que Angola ou Moçambique. Sendo ainda que sempre passará a haver por aí mais um Estado onde se fala a língua portuguesa: na ONU, na OTAN, na União Europeia, na UNESCO, na OMS, e por aí fora.

Cheerleader


Da entrevista dada esta noite por José Sócrates à RTP só percebi umas coisas singelas. Um primeiro-ministro é um chefe de claque. Um bom primeiro-ministro é um bom chefe de claque. Importante é animar, saber como animar e fazer acreditar. A realidade não existe.