31.10.07

Sentença

O veredicto do tribunal de Madrid sobre os atentados de 11-M deixou Zapatero esfusiante mas um cidadão anónimo como eu absolutamente estupefacto. E por um conjunto muito simples de razões. O veredicto é "ouro sobre azul" para a política interna e externa espanhola, e não apenas por que rejeita a velha teoria de que a ETA teria tido alguma coisa que ver com os atentados. O facto do "egípcio" ter sido considerado inocente, de apenas três "arguidos" terem sido condenados a pena máxima e de uma boa parte ter saído em liberdade significam uma de duas coisas. Ou a investigação foi mal conduzida e/ou as acusações mal pronunciadas, ou então o tribunal não foi independente e redigiu uma sentença light que apazigua a opinião pública "árabe" em Espanha e no exterior evitando incómodos e dificuldades mais ou menos sérias ao governo socialista.
Certo é que a sentença não foi um ponto final no caso – provavelmente nunca poria – e suscita muitas perguntas e uma desconfiança clara, reforçando a ideia de que também em Espanha o poder judicial não é independente do poder político.

30.10.07

O Livro


Folheei hoje numa livraria o último romance de Miguel Sousa Tavares, cujo título não fixei. Pareceu-me excelente para quem sofra da vista e péssimo para quem tenha problemas de coluna.

26.10.07

Joaquim Chissano tem uma biografia política.

Joaquim Chissano foi há dias proclamado vencedor da primeira edição do prémio Mo Ibrahim que pretende premiar a boa governação em África e, entre outras coisas, o desapego pelo poder demonstrado pelos vencedores, neste caso por Chissano.
Conviria no entanto recordar - embora não aos outorgantes do prémio que sabem bem aquilo que andam a fazer -, que Chissano tem uma longa biografia política que o faz cúmplice e fautor de governos e de uma governação da FRELIMO que liquidou voluntariamente, em nome do "marxismo", da "revolução" e do "socialismo" (é verdade que podia ter sido em nome de outra coisa qualquer), a vida de muitas centenas de milhar de moçambicanos. É certo que hoje em dia estes pormenores da história não interessam nada. Mas ainda assim eu gostava, ao menos, que acontecessem duas coisas. Em primeiro lugar, que Chissano explicasse qual foi o seu papel na política genocida que a FRELIMO levou acabo em Moçambique em boa parte das décadas de 1970 e 1980. Em segundo lugar, que pedisse desculpas aos moçambicanos e ao mundo pelos crimes cometidos por governos moçambicanos de que fez parte ou a que presidiu. Depois que lhe dêem lá o prémio, não sendo má ideia que Chissano distribua os milhões de Euros que vai receber por instituições que em Moçambique poderão andar a tentar tratar das vítimas moçambicanas daquela que foi, a todos os títulos, uma independência exemplar.

24.10.07

Duas Notas

Sobre o 2.º episódio de "A Guerra" transmitido ontem na RTP, apenas duas notas.
A primeira, para sublinhar que o fracasso da "abrilada" conduzida por Botelho Moniz e Costa Gomes foi uma bênção para Portugal, apesar de ter tornado inevitável a guerra colonial (ou, sobretudo, por ter tornado inevitável a guerra colonial). Instigada pela Administração Kennedy e contrariada pela vontade de Salazar, Américo Tomás, Kaulza de Arriaga e Adriano Moreira, o triunfo dos "ultras" sobre os "reformadores" do regime, evitou a "latino-americanização" do país. De facto, Kennedy e os seus "rapazes" pensavam que podiam determinar a vida política portuguesa em 1961 (através de um golpe militar e, um mês antes, com o apoio dado ao terror da UPA no norte de Angola), do mesmo modo que outras administrações norte-americanas se tinham habituado a influenciar os destinos de boa parte dos países latino-americanos desde o século XIX. Irónico é o facto de Kennedy ter fracassado em Lisboa em Abril de 1961 e em Angola um mês antes, da mesma forma que, com a CIA e os famosos exilados cubanos, fracassou na Baía dos Porcos na terceira semana de Abril de 1961.
Uma segunda nota para o facto de um terrorista da UPA, entrevistado por Joaquim Furtado, condenar, iniciada já a guerra em Angola, o bombardeamento indiscriminado, pela Força Aérea Portuguesa, do "mato" angolano, e do qual decorria a morte de muitas mulheres e crianças que no "mato" naturalmente viviam. Ora este terrorista era exactamente a mesma personagem que, no episódio anterior, achava absolutamente legítimo que a UPA tivesse assassinado a sangue frio, olhos nos olhos, na sua ofensiva de Março no Norte de Angola, milhares de mulheres de velhos, mulheres e crianças brancas, mestiças e pretas. Palavras para quê?

19.10.07

Para que serve um atentado?

Se há país saído da vaga independentista do pós-Segunda Guerra Mundial que está longe de encontrar o seu caminho, esse país chama-se Paquistão. Várias vezes à beira da guerra civil, testemunha de inúmeros golpes militares, terra de ditaduras militares corruptas e bestiais, de experiências democráticas fracassadas, de uma guerra de secessão, de umas quantas com a União Indiana, de terrorismo e radicalismo islâmico, o Paquistão voltou ontem a ser notícia pelas piores razões. Um atentado matou umas 130 pessoas que festejavam o regresso do exílio de Benazir Bhutto. Como se isto não bastasse, e não apenas pelo simples facto do dito atentado não ter sido reivindicado, enquanto o Governo paquistanês aponta o dedo aos radicais islâmicos, o quase viúvo de Benazir Bhutto veio dizer que os responsáveis pela matança não poderiam ser outros senão os serviços secretos paquistaneses. Já só falta alguém jurar que tudo não passou de uma orquestração pensada e executada pelos apoiantes da recém-chegada. Afinal, e como se sabe, nada melhor do que um atentado - seja ele qual for - para que a candidata a primeira-ministra nas próximas eleições legislativas possa vir a ter mais e maiores possibilidades de conquistar um bom resultado.

Jornalismo militante que é "jornalismo de sarjeta"

Quando ontem (que já era hoje) me deitei, depois de ver um episódio de House na TVI, fi-lo informado sobre a boa nova. O novel tratado, ou tratado rectificado, da União Europeia fora aceite pelos representantes dos 27 e seria assinado numa conferência a realizar na capital portuguesa durante o mês do Natal.
Hoje acordei com a notícia na RTP 1 e com António Esteves Martins fazendo, nos detalhes, nas pequenas histórias, propaganda descarada ao tratado, ao nosso Governo, ao seu líder, à Comissão Europeia e a José Manuel Barroso. Fiquei sem saber, valha a verdade, se o "jornalista" informa ou dá opinião e, sobretudo, se trabalha para um órgão de informação público ou para o Governo português e para a Comissão Europeia (desconfio, no entanto, que é tudo a mesma coisa). Ou claro, se apenas ignora as regras básicas que, supunha, e suponho, regulam a sua profissão.
Já agora, e para terminar, fico à espera que me expliquem no que é que o novo tratado de Lisboa contribuirá para melhorar a minha vida e a dos meus e que me deixem aprovar ou rejeitar em referendo o muito importante documento.

O detalhe do tratado "rectificado" de Lisboa

Foi realmente foi "porreiro" que os chefes de governo dos não sei quantos países que neste momento compõem a União Europeia aprovassem e se comprometessem a assinar, no próximo mês de Dezembro, um novo tratado "rectificado" de Lisboa. Só falta agora a "ratificação" do mesmo por Parlamentos ou por via referendária durante o ano de 2008. Um pequeno detalhe, portanto. Ora, como dizia ontem António Vitorino na TSF, o "diabo está nos detalhes". É certo que já não na negociação mas na “ratificação”. Em resumo, ainda é muito cedo para lançar foguetes.

18.10.07

Um deserto ao virar da esquina

Foto: Dunas no deserto da Namíbia.
Não parecendo nem sendo excessivos os riscos de inflação na zona Euro - e até mesmo que o fossem - certo é que a moeda europeia não pode continuar como está, valorizando-se cada dia um pouco mais nos mercados internacionais, sobretudo face ao dólar. Ou o BCE desce as taxas de juro, acompanhando a estratégia da Reserva Federal norte-americana, e a moeda europeia reduz o ritmo da sua valorização nos mercados internacionais, ao mesmo tempo que o investimento e o crescimento económico recuperarão, ou dentro de três ou quatro anos tudo quanto é indústria - em sentido lato - na Europa poderá não passar de uma recordação.
Esperemos, portanto, que o BCE seja realista e pragmático, e meta na gaveta a sua ortodoxia monetária tão impregnada de ideologia. É que certamente, e mesmo que forma indirecta, o BCE deverá continuar a gerir uma economia e não um deserto.

Onde fica Cañada Real?

Em Cañada Real, nos arredores de Madrid, a polícia tentou hoje demolir um edifício clandestinamente construído. O resultado foi mais de uma vintena de feridos, na sua grande maioria polícias, fruto de uma reacção extremamente violenta por parte daqueles que se opunham à dita demolição por viverem no dito edifício ou noutros das cercanias construídos igualmente num regime de ilegalidade.
Segundo testemunhos a cena mais parecia uma “infitada” – o que pude comprovar ao ver as imagens do acontecido na TVE Internacional. E era uma “infitada” pela simples razão de que não só se tratava de uma reacção orquestrada por cidadãos marroquinos imigrados em Espanha, mas por os súbditos de Mohamed VI não terem hesitado em usar armas brancas, bilhas de gás, pedregulhos, tijolos, armas de fogo ou telhas num confronto com a polícia que preparam ao mínimo pormenor. Mas era ainda uma “infitada” pelo facto de, para impressionarem e conquistarem a opinião pública espanhola (e internacional?), usarem indiscriminadamente bebés, crianças, idosos e mulheres grávidas como escudos contra uma acção policial legal e legítima.
De tudo isto, e por agora, só retiro duas conclusões:
Que nos habituemos a este tipo de atitudes que não são mais do que uma tentativa para impor aos madrilenos (autoridades e cidadãos), de forma ilegal, violente e ilegítima, os seus hábitos de vida.
Que as autoridades espanholas, ou quaisquer outras por esta Europa, que se confrontem com situações com esta gravidade, não hesitem em aplicar a lei até às últimas consequências ou até em modificá-la, caso seja necessário. Devem fazê-lo ao ponto de permitir, acelerar e facilitar a expulsão de gente que não sabe ou, sobretudo, não quer comportar-se segundo normas e princípios sufragados em democracia e em liberdade.
Foto: www.elmundo.es com pormenor de "chabolas" em Cañada Real.

Duelo

Tanto quanto percebi, Santana Lopes vai hoje à noite à SIC Notícias dar uma entrevista em directo. Alguém sabe por é que vai andar o José Mourinho a essa hora?

17.10.07

Os Despojos da Aliança


Sexta-feira, às seis da tarde, na casa Fernando Pessoa em Campo de Ourique, vai ser lançado o livro de Pedro Aires de Oliveira intitulado Os Despojos da Aliança. O livro será apresentado por José Medeiros Ferreira. Apareçam porque o autor e livro merecem e a editora também.

Guerra Colonial

Começou bem o programa de Joaquim Furtado na RTP sobre os 13 anos da guerra colonial que portugueses e africanos, nos dois lados da barricada, combateram em África entre 1961 e 1974. Na economia do 1.º episódio pareceram-me particularmente importantes dois acontecimentos, tendo sido um deles revelado por Holden Roberto, líder da UPA e, depois, da FNLA. Um e outro acontecimento valem por porem seriamente em causa as leituras lineares e simplistas que existem sobre o conflito e da política colonial portuguesa nos últimos anos da história do Estado Novo.
Senão vejamos. Holden Roberto confessou que não só os massacres iniciados em Março de 1961 foram planeados durante nove meses e executados de acordo com o planeado, como nunca teriam acontecido caso não tivessem sido fomentados por países terceiros, a começar pela Tunísia. Entre outras revelações interessantes, e algumas delas desconhecidas para mim, Holden Roberto confessou que foram tropas tunisinas, pertencentes ao contingente da ONU estacionado no antigo Congo Belga, a entregar armamento à UPA. Este armamento seria usado para massacrar homens, mulheres e crianças, brancas, pretas e mestiças na metade norte do território angolano e, ainda, para alimentar uma guerra de guerrilha durante vários anos. É claro que muitas outras armas iriam os homens da UPA/FNLA receber com o arrastar do conflito e das mais variadas proveniências. No entanto, o primeiro passo tinha sido dado.
Em segundo lugar, o documentário mostrou-nos claramente que o colonialismo de Salazar e do regime era, em 1961, pouco mais do que retórico. Mas mostrou-nos, acima de tudo, que a determinação de ficar na sequência dos massacres não foi uma imposição feita por um regime e por um governo a um país e ao seu povo. Angola continuou sob soberania portuguesa depois de Março de 1961, e em primeiro lugar, por determinação e vontade dos colonos portugueses que o governo de Salazar, ao contrário dos golpistas fracassados da "abrilada", não quis ou não pôde contrariar nas suas intenções. De facto, não tivesse havido por parte dos colonos uma resposta militar e política aos ataques da UPA, Angola teria caído às mãos de milhares de mãos e mentes criminosas. E era justamente com isto que nem a UPA nem os seus apoios internacionais, que incluíam os EUA, contavam.

16.10.07

Pequeno Almoço

Meia papaia, café com leite magro, uma fatia de pão com manteiga e uma fatia de pão com "doce" de frutos silvestres. Amanhã há mais!

14.10.07

O que fazer com a presidência?

Foto: expresso.clix.pt
Se há coisa que se pode perceber deste XXX Congresso de PSD é que o líder recentemente eleito não tem nem autoridade, nem estratégia, nem argumentos tácticos. Ou seja, ainda agora ganhou a presidência do partido e não sabe o que fazer com ela. É claro que "isto" também demonstra quão frágil foi, politicamente, a sua vitória.

11.10.07

O Déficit


O déficit das contas públicas, anunciou hoje José Sócrates, poderá ficar pelos 3% do PIB, ou até uma décima ou duas abaixo. Tirando os do costume, para já ninguém parece rejubilar. Nem mesmo no Governo. Vejam-se os rostos fechados de alguns ministros depois de dada e comentada a boa nova. Leiam-se ou ouçam-se as palavras de Cavaco Silva. Se temos boas notícias e ninguém se sente feliz ou aliviado com elas é porque alguma coisa corre mal. O que será?

Apagar a História

Para o bem ou para o mal, foram os "nacionais" que ganharam uma guerra civil em Espanha que durou quase três anos. De há uns anos para cá, uma parte da sociedade espanhola não pretende apenas que seja feita justiça às vítimas da violência “nacional” que acompanhou aquela guerra civil e, depois, dos crimes que se revelaram umas vezes essenciais, outras dispensáveis, para consolidar o franquismo.
Essa parte da sociedade espanhola quer, e pensa que pode, ganhar a guerra civil 60 ou 70 anos depois. Pretende fazê-lo de várias formas. Mas também apagando da vida pública espanhola aquilo que resta de cerca de 40 anos da história de Espanha no século XX, por mais sombrios que os possamos considerar. Aliás, não foram apenas sombrios esses 40 anos de franquismo, porque todas as ditaduras sempre tiveram, e ainda têm, zonas de luz e de sombra.
Essa parte da sociedade espanhola pretende um ajuste de contas com os vencedores e, sobretudo, retomar a história de Espanha em Julho de 1936, o que, aliás, nunca será mais do que um regresso ao ambiente de violência feroz que conduziu ao pronunciamento militar fracassado daquela data e subsequente guerra civil. Como se pode constatar facilmente esta atitude é mesquinha e, sobretudo, muito grave, porque está a reintroduzir em quase todos os quadrantes políticos um radicalismo de palavras e uma violência de gestos que não auguram nada de bom. Ou seja, e basicamente, está-se a destruir o consenso em torno da “transição pactuada” que conduziu à Espanha que conhecemos até ao dia em que Zapatero e o PSOE ganharam as eleições legislativas, mas que já germinava nos quatro anos que durou o último governo de José Maria Aznar.
Sendo a Espanha o único Estado com o qual temos fronteira terrestre desde que o nosso império colonial se foi, devemos estar atentos e preocupados com aquilo que se passa aqui ao lado, para além do terrorismo da ETA e do triste fenómeno dos nacionalismos, seguros porém de que o futuro nada trará de bom, arriscando-se a Espanha a regressar à instabilidade política e social endémica que conheceu desde o início do século XIX até ao momento em que se aprovou a Constituição que (ainda) vigora. Àqueles que pensam que a prosperidade económica evitará o pior, apenas me ocorre dizer-lhes que não conhecem nada da história de Espanha nem da história da Europa.
Como seria de esperar, há em Portugal quem aprecie uma lei perversa publicada recentemente em Espanha, uma lei dita da "memória histórica", e que se caracteriza, entre muitos outros aspectos, alguns deles louváveis, por impor que sejam retirados dos espaços públicos praticamente tudo aquilo que evoque os tempos do franquismo, como se este nunca tivesse existido e não tivesse, por exemplo, merecido o apoio empenhado e convicto de milhões de espanhóis. No fundo, aquilo que se aplaude no apagar uma certa memória histórica do franquismo é, nada mais nada menos, do que a utilização dos velhos mas conhecidos métodos estalinistas de subtracção à história daqueles que foram seus protagonistas e, mais ainda, num dado momento, os vencedores da história. Por isso, quando em Espanha se prepara a retirada do espaço público de toda a iconografia que possa ainda recordar ou evocar o franquismo, está-se a proceder da mesma forma que Estaline e os seus lacaios procederam ao ter subtraído sucessivamente da história da Revolução Bolchevique e dos primeiros anos da União Soviética os Trotskis, os Zinovievs, os Kamenevs ou os Bukarines. Trata-se, portanto, de uma imbecilidade, de um crime e de um absurdo que não se limita a envergonhar a democracia. Está a corrompê-la e a destruí-la. Mas enfim, e valha a verdade, é bom recordar que muitos daqueles que lutaram contra o franquismo e por isso morreram, durante e depois da guerra civil, odiavam-na tanto ou mais a democracia do que os seus verdugos. O mesmo pode ser dito em relação a muitos daqueles que aplaudem esta lei ou até a consideram excessivamente moderada. E isso é muito preocupante.

História e Petição


A revista História, com a qual, diga-se, colaboro pontualmente com gosto e orgulho, vai fechar. A não ser com o recurso a uma modesta mas bem montada ofensiva de venda do produto junto de instituições privadas que vejam com bons olhos associarem o seu nome e o seu dinheiro a uma revista que, penso, não envergonha ninguém, a História passará à história. Não será nenhum drama. Mas será uma pena, sobretudo se, rapidamente, não vier uma outra, com tanta ou mais qualidade, ocupar o seu lugar. Entretanto, apelo a que se assine esta petição on-line. Eu fi-lo. Há sempre uma primeira vez para assinar uma petição. Sobretudo quando é tão prosaica.

Comemorar a República


Excelente o texto de Rui Ramos no Público, e entretanto reproduzido no blogue Atlântico, acerca da loucura que será, se é que já não é, pretender comemorar bovinamente (a expressão é minha) o 5 de Outubro de 1910. Suspeito, porém, que este não será o seu derradeiro texto sobre o tema. Assim o augura o modo como se continuam a preparar as comemorações oficias do 1.º centenário da implantação da República.

Doris Lessing

Doris Lessing foi hoje “galardoada” com o prémio Nobel da Literatura. Conheço pouco daquilo que escreveu e apenas em traduções portuguesas que não me desiludiram. Do que li está lá, justamente, um olhar crítico, mas também analítico, sobre o mundo que nos rodeia e aquilo que desafortunadamente somos ou podemos ser em qualquer tempo ou lugar. Aprecio o seu pessimismo esclarecido e invejo, no bom sentido, a vida tranquila, banal e recolhida que tem levado nas últimas décadas mas que, no entanto, não a impede de se pronunciar sobre o estranho mundo em que vivemos - ou melhor, em que sempre vivemos.
Dando uma vista de olhos pela imprensa on-line depois de ter sido conhecido a quem fora atribuído o Nobel da Literatura deste ano, deparei-me com uma entrevista dada por Lessing ao El Mundo e na qual produziu estas duas belas e curtas respostas a um par de perguntas que muitas vezes se fazem aos mais velhos e às mulheres preocupadas com estado da chamada "condição feminina".
"Pregunta.- El próximo mes cumplirá 87 años. Supongo que, de vez en cuando, echa la vista atrás... ¿Qué ve entonces?
Respuesta.- Todo aquello tan espantoso que había cuando era joven ha desaparecido. Todo eso que parecía permanente: Hitler, Mussolini, la Unión Soviética, el Imperio Británico, todos los países europeos que eran imperio, el racismo en Estados Unidos, Franco... Se han ido...
[…]
P.- ¿Cuál es el papel de la mujer a estas alturas?
R.- El rol de la mujer ahora y siempre será el de tener hijos.
P.- Algo cambiará alguna vez... R.- Tenemos que seguir teniendo hijos, ¿no? ¿Y cómo vamos a cambiar eso?"

9.10.07

O Insulto

O primeiro-ministro insiste na ideia de que os portugueses podem fazer manifestações de protesto político, mas não podem insultar. No caso, não o podem insultar sobretudo a ele, uma espécie de messias dos tempos pós-modernos. Sobre isto ocorre-me dizer, e em primeiro lugar, que não sei onde é que Sócrates foi buscar esta ideia peregrina de que a democracia proíbe, ou deve proibir, o insulto democrático e livre do povo aos políticos e, especialmente, aos chefes de Governo. Em segundo lugar, Sócrates poderia eventualmente pedir que os portugueses não o insultassem no caso dele não insultar os portugueses. Ora qualquer pessoa minimamente atenta já percebeu há um bom par de anos que Sócrates não tem feito outra coisa desde que ganhou as eleições legislativas que não seja insultar os portugueses. E não me refiro apenas ao permanente insulto à inteligência dos seus concidadãos muito típico da classe política. Refiro-me ao insulto gratuito que Sócrates permanente lança sobre esta mesma classe política (vejam-se os debates parlamentares), sobre grupos profissionais e sociais, além, claro está, do insulto ao bom senso e à boa educação que manifestamente desconhece. Além disso, e até prova em contrário, até parece que não o incomoda que muitos colegas seus de governo e camaradas de partido não parem de, também eles, insultar os portugueses tanto por palavras como por actos.

8.10.07

Combate à Corrupção

O PS Madeira quer que se investigue a "corrupção", claro está, no arquipélago da Madeira. O PS do continente, segundo João Cravinho, não quer que se investigue qualquer corrupção que mexa com interesses instalados e bem instalados, a começar por aqueles que se entranharam no Estado nas últimas três décadas. Esta diferença de atitudes, entre o PS da Madeira e o PS do continente, é a diferença entre estar ciclicamente no poder e nunca ter lá estado (já agora o que pensará o PS dos Açores sobre “corrupção”). De qualquer modo, e caso se corresse com o bloco central do poder do Estado, dos governos regionais e das autarquias e ver-se-ia como PS e PSD se indignariam muitíssimo, genérica e especificamente, com a chaga da corrupção.

5.10.07

Não passamos disto.

Foto: Barragem da Aguieira.
Ao anunciar ontem a intenção de construir dez barragens, o Governo Sócrates revelou pela enésima vez a sua vertigem propagandistica. E andamos nisto, não passamos disto.

4.10.07

Joaquin Sabina: "19 dias y 500 noches"

A primeira de uma triologia. Por nenhuma razão em especial. Hoje sinto-me mais espanhol. Não há coisa mais portuguesa?

Joaquin Sabina: "Noches de Boda"

Vídeo cortado, mas canção excelente. Tal como a interpretação.

Joaquin Sabina: "y sin embargo te quiero"

Causa de Morte: Homícidio ou Suicídio?

É claro que não é apenas por causa deste ou daquele episódio que merece uma maior atenção dos media, mas o regime está a afundar-se a um ritmo impressionante. Para além de muitos factos aparentemente menores, houve e há as fugas de Barroso e Guterres, a governação de Santana Lopes e a de Sócrates. Vieram recentemente as eleições "directas" para o PSD e, hoje, uma entrevista a João Cravinho que a Visão publica e o Público on-line resume. Vejam-se, por exemplo, estas afirmações de Cravinho sobre a qualidade moral e a verticalidade ética de quem governa em nosso nome:
“O presidente do grupo [Alberto Martins] disse que o fenómeno [da corrupção] existia, mas que Portugal não estava numa situação particularmente gravosa. Pelo contrário, nas comparações internacionais estava muito bem. Fiquei [João Cravinho] de boca aberta”.
Ou ainda: “Foi dos maiores choques da minha vida ver que aquela matéria causava um profundo mal-estar, era como um corpo estranho no corpo ético do PS. Apesar de algumas dificuldades que antevia, não contava com uma atitude de absoluta incompreensão para a natureza real do fenómeno da corrupção."
Estamos, definitivamente, conversados. Ver-se-á depois aquilo que virá escrito na certidão de óbito do regime.

1.10.07

Aniversário

Quem sou eu para recomendar o que quer que seja a alguém, nomeadamente o consumo de "bens culturais". Penso que nunca o fiz em nenhum dos posts que escrevi aqui ou no "amigo do povo". Não é por isso que deixo de ter quase sempre curiosidade em conhecer as opiniões dos outros sobre as recomendações que fazem, sobretudo quando se trata de livros.
No entanto, e como há sempre uma primeira vez, a propósito do 90.º aniversário da Revolução Bolchevique (é já a 7 de Novembro), aconselharia aqueles que me lêem e que confiam na minha opinião e em algum conhecimento que tenho sobre a história da revolução bolchevique – ou bolchevista como penso ser mais correcto dizer em português de Portugal –, que se atrevam a ler os dois volumes escritos por Richard Pipes sobre a dita, suas origens próximas, a etapa inicial da história do comunismo na Rússia (ou seja, até morte de Lénine) e o advento do fascismo na Europa. É justamente do segundo volume desta história que apresento uma das suas várias capas ali à vossa (nossa) esquerda. Para aqueles que tenham menos tempo e, mesmo assim, queiram conhecer as grandes teses historiográficas em torno do advento do comunismo na Rússia, é sempre possível ler ou este ensaio sobre as três revoluções russas (Fevereiro e Outubro de 1917 e a revolução estalinista) ou uma edição abreviada dos dois volumes previamente citados.
Se, no entanto, mais do que uma obra escrita por um historiador, aqueles que me lêem preferem degustar um excelente pedaço de prosa sobre a dita revolução, nada como ler Leon Trotsky e a sua História da Revolução Russa. Além de boas edições em língua inglesa, penso existirem também traduções francesas e espanholas. Haverá alguma brasileira?
Já agora, e como devem ter percebido, os vídeos à direita são sobre a revolução bolchevista. Excertos de obras cinematográficas de propaganda que, talvez por isso mesmo, sempre me pareceram excelentes. Ou não tivesse eu chegado ao audiovisual através da publicidade televisiva. Sim, porque há trinta e tal anos, eram os reclames que me deliciavam na TV a preto e branco, com um só canal, ainda por cima público.

Cabeças simples


No Arrastão leio: "A defesa da laicidade do Estado é a defesa da democracia." Lembrei-me logo a seguir que o Reino Unido é e sempre foi uma cruel ditadura. E que a Cuba de Fidel é, e sempre foi, um grande paraíso democrático. Sempre a ler os outros, sempre a aprender.