31.8.07

"The Maias"


O The New York Times Review of Books deste fim de semana, ao menos na sua edição on-line, tem uma pequena resenha sobre Eça de Queirós. Isto por causa da publicação de uma nova tradução em língua inglesa dos Maias ao cuidado de Margaret Jull Costa. Vale a pena a ler, embora se trate de um texto introdutório que faz eco de alguns lugares comuns hoje ultrapassados acerca da vida e obra de Eça. Ainda assim, tanto o trabalho do romancista como, já agora, o Portugal de hoje, saem muito bem na fotografia, não sendo excessivo Alan Riding nos elogios que teceu.

O futuro de Paulo Teixeira Pinto

Já começaram os palpites sobre o que o irá fazer com a sua vida o agora demissionário presidente do BCP, Paulo Teixeira Pinto. O meu é que para o ano aparecerá como rosto, e eventual líder, de uma OPA hostil ao BCP protagonizada por um consórcio internacional em que se encontrará um ou outro vestígio de capital luso - se é que o capital ainda tem pátria. A vitória de Jardim Gonçalves é, também por isso, uma vitória de Pirro.

“L Word”

A RTP 2 está repor, penso que não será a primeira vez, uma série que trata das peripécias amorosas e sexuais protagonizadas por um generoso grupo de lésbicas californianas bem parecidas e de extracção social e cultural aparentemente elevada. Como já sucedia numa série de que vi um par de episódios incompletos e que a RTP 2 também passou há, talvez, um par de anos sobre homens que se dedicavam a ir para cama com outros homens e a apaixonarem-se uns pelos outros – com inevitáveis desencontros pelo meio – cada vez me convenço mais de que a homossexualidade, em si mesma, é uma coisa muito aborrecida e que, no limite, não tem identidade própria, ao contrário do que estabelecem novos hábitos e interesses culturais, económicos e sociais. Talvez por isso, tenha recordado, enquanto quase adormecia a ver parte de um desses episódios sobre as “chicas” da Califórnia, as palavras usadas sistematicamente por alguém mais velho da minha família – uma tia, uma avó, a minha mãe? – quando eu era criança e me dedicava a fazer perguntas então tidas como incómodas sobre sexo e sexualidade. A reposta que ouvia era inevitavelmente sempre a mesma: “Oh filho, essas coisas não existem.” De facto, a homossexualidade, para além do sexo em si, não existe. Demorei 40 anos a perceber…
Nota: Na foto acima, e para informação daqueles e daquelas que adormeceram antes de se ter iniciado qualquer episódio da "L Word", aparecem as suas protagonistas.

Bayern de Munique – “Os Belenenses”

Quando hoje, por volta do meio-dia, ouvi na TSF que no sorteio para a primeira eliminatória da Taça UEFA o Bayern de Munique estava, como cabeça de série, no mesmo grupo do Belenenses tive logo aquela sensação de que o “colosso” bávaro iria calhar ao clube de Belém. Não me enganei. Não porque seja bruxo, mas porque nestas coisas da UEFA o Belenenses já apanhou o Barcelona duas ou três vezes e o Bayern de Leverkusen na primeira eliminatória. Com os catalães o Belenenses foi sempre eliminado por pouco e até chegou a ultrapassar o Leverkusen quando este clube então patrocinado pela Bayer era detentor da Taça UEFA. Treinava então a equipa de Belém o britânico John Mortimore que se destacara ao serviço dos encarnados da segunda “2.ª Circular”. Na altura, e depois de vencidos os germânicos, o Belenenses acabou eliminado pelo Velez Mostar, clube bósnio da ainda Jugoslávia e quando era o único clube português que poderia ter chegado a uma terceira eliminatória das “competições europeias”.
Na sequência do sorteio de hoje, tanto o presidente Cabral Ferreira como o treinador Jorge Jesus não se mostram atemorizados com o nome e o futebol do adversário que saiu na rifa. Fazem bem, espero que tenham razão e que as coisas aconteçam como sugere o “mister” dos meus azuis usando argumentos que não deixam de ter alguma lógica. Para já, presidente e treinador, mostram que estão psicologicamente bem e com capacidade para liderar jogadores e massa adepta sempre muito pouco temerária.
Foto: "Tudo em Jogo".

30.8.07

Bola



Agora que o “Benfica” eliminou, na “pré-qualificação” da Liga dos Campeões, o “difícil” e esforçado “Copenhaga”, quem é que pensa poder vencer na chamada “fase de Grupos”?

Foto: Exemplar de "Milhafre Preto". Câmara Municipal de Santarém.

28.8.07

Se fosse verdade...

Segundo notícia do Público on-line, citando o meu colega Carlos Zorrinho que cita não sei quem, "Portugal sobe três lugares no “ranking” da qualidade dos serviços públicos." Se fosse verdade eu acreditava.

ETA em Portugal? E Depois?

Não sei se há em Portugal uma "estrutura" da ETA tal como parecem pretender as autoridades espanholas. Sei, no entanto, que o Estado português deve fazer tudo aquilo que estiver ao seu alcance para combater o terrorismo, e sobretudo o “etarra”. A não ser, claro, que seja do interesse nunca declarado do Estado português colaborar, de alguma forma, na fragmentação política e "étnica" da Espanha.
De qualquer modo, a excitação aparente manifestada subitamente por parte das autoridades policiais e judiciais espanholas em torno da possibilidade da existência da tal estrutura "etarra" em Portugal apenas me faz pensar que também o Ministério dos Negócios Estrangeiros e o Ministério da Defesa portugueses, tal como o da Administração Interna, devem acompanhar muito de perto as pretensões de cooperação na luta antiterrorista manifestada pelos nossos queridos e únicos vizinhos nos últimos dias.

A SIC na Grécia

Os incêndios florestais ocorridos este Verão na Grécia são uma vergonha e uma desgraça. Não me parece, no entanto, que mereçam o envio pela SIC de uma equipa de reportagem para aquele país localizado no Mediterrâneo oriental. A não, ser claro está, que se esteja perante um caso de manifesto sado-masoquismo, por se dar o caso daquela estação se pretender especializar no tema, ou por, singelamente, desejar, a qualquer preço, ter durante este mês de Agosto grandes incêndios em directo nos seus noticiários (como acabo de chegar de "fora" ignoro se RTP e TVI, ou qualquer outro "órgão de informação" português, também enviaram equipas de reportagem à Grécia). Certo é que à falta de animação por cá recorre-se ao que está mais à mão. Quanto àquilo que o enviado da SIC diz e mostra nos ecrãs apenas me ocorre dizer que nada acrescenta ao que as agências de notícias internacionais vão retransmitindo quotidianamente. Uma patetice, portanto, que talvez o povo português aprecie.

A ETA, o Governo de Espanha e Nós.


Gostava que me explicassem como e por que é que as autoridades policiais e judiciais portuguesas irão colaborar com as homólogas espanholas na luta contra a ETA e pagar um preço político por essa colaboração. Digo isto pela simples razão de que o Governo de Espanha persiste na sua disposição, que ninguém ignora, de negociar e chegar a um entendimento a qualquer preço com o terrorismo basco.

21.8.07

Espanha

O EL Pais, que nao morre de amores por Zapatero, dá hoje "portada"a Gallardón, o "alcalde" do PP em Madrid. Gallardón anda nos últimos tempos a fazer de Luís Filipe Meneses dos "Populares". Ao que parece o edil afirmou que caso o PP nao se "modere", perderá as eleicoes gerais do próximo ano. Descontando o facto de Gallardón nao querer, por nada deste mundo, que o PP ganhe as "gerais" de 2008, porque ambiciona ser presidente do seu partido depois do descalabro que muitos prevêm - o director do el Mundo, por exemplo, suspirava há dias pelo "exilado" Rato - eu só pergunto por que raio se deve o PP moderar, se moderado já ele é, excepto, claro, se considerarmos que defender princípios básicos de uma sociedade aberta e de um sistema político democrático é o cúumulo do radicalismo.

13.8.07

Economia e Financas

Parece que afinal o Banco Central Europeu já nao irá aumentar as taxas de juro na reuniao do próximo mês de Setembro. O presidente do Banco Central Europeu, o inefável Trichet, andava subi-las a pensar na inflacao. Afinal o problema era outro e provocado, em grande parte, pela subida imparável de taxas de juro nos últimos anos. Haverá incompetência maior e mais irresponsável? Será que nao se podem despedir, com justa causa, todos os presidentes de todos os bancos centrais europeus da zona euro, e ainda o do BCE, e entregar os seus empregos a gente que, garantidamente, nada perceba de macroeconomia?

Galiza

Há cinco dias em Ponte Caldelas e arredores. Nem um "preto", nem um "árabe". Será que estou na Europa?

7.8.07

O "Arrastão" na Turquia

Ao ler uma parte do Daniel Oliveira regressado de uma estada de três semanas na Turquia, notei (também eu?) que o autor do Arrastão vem encantado com a direita turca que, ainda por cima, é assim para o confessional. Será que o Daniel esteve num "campo de reeducação"?
P.S.: Confesso que fiz parte daquele numeroso exército que visitou regularmente o Arrastão à espera de encontrar, nem que fosse, um mísero post. É bom saber que não estamos sós.

Cabeças no ar

Descontando os exageros, o que é verdade é que este caso do voo da TAP oriundo da Holanda, desviado para Lisboa e com problemas sérios de transbordo de passageiros na Portela para o aeroporto Sá Carneiro, tudo com a comitiva do FCP a bordo, apenas nos recorda a prepotência usada pela generalidade das companhias aéreas com os seus fregueses. O FCP diz que nunca mais voa na TAP e a TAP já pediu desculpas ao FCP e garante que vai apurar "responsabilidades", até por que o FCP é o FCP. Fica bem à TAP. Mas a verdade é que tudo continuará a ser como antes e andar de avião uma permanente caixa de surpresas, normalmente desagradáveis. Salva-se o facto da aeronave não ter caído.

6.8.07

A avó Francelina

Se fosse viva cumpriria hoje 102 anos. Faleceu aos 98 em Lisboa. Nasceu num lugarejo chamado Barrocal, próximo da vila de São Bartolomeu de Messines. Gostava de João de Deus. Era das mais velhas entre uma dúzia de irmãos dos quais apenas meia dúzia sobreviveu à infância. Os pais morreram com a “pneumónica” logo depois da Grande Guerra. A República não a alfabetizou, mas foi uma das mulheres mais inteligentes que conheci. Ainda criança, deixada ao cuidado de uma avó, foi servir para Tavira. Casou com um sapateiro que se tornou alcoólico e lhe batia de tempos. Todos os dias a sua preocupação era ter como alimentar as filhas. Fugiu de Tavira no início da década de 1950, com três filhas costureiras que tinham estudado até à 4.ª classe. Primeiro esteve na Cova da Piedade, depois mudou-se para Campo de Ourique, em Lisboa, onde foi porteira. Casou a Fausta, a Aline e a Leonarda com, respectivamente, um motorista particular natural de Torres Vedras, um alfaiate de Baleizão e um pequeno comerciante filho de galegos. Os três estavam em Lisboa à espera de conhecerem moças sérias e casadoiras. O meu avô Amândio, que minha avó nunca deixou de amar e respeitar – porque afinal “nunca tinha matado ninguém” – juntou-se-lhe, ainda duas filhas permaneciam solteiras, em Campo de Ourique. Em finais dos anos 60 e início dos 70 levava-me a passear ao Jardim do Ultramar e à Praça do Império. Por essa altura eu visitava ocasionalmente o meu avô numa parte de casa onde vivia com a avó Francelina na Rua do Galvão, freguesia de Santa Maria de Belém. Era então empregada de limpeza num stand de automóveis da Ford juntou à Praça do Chile, e de onde me trazia catálogos impressos em bom papel e com fotos a cores. Fascinava-me o Ford Capri. Sempre votou PS e gostava do "bochechas", mas durante o PREC participou no saneamento do patrão que, anos depois, viu regressar à “empresa.” Reformou-se aos 75 anos com uma pensão mínima que, salvo erro, só a generosidade e a bem dita irresponsabilidade financeira dos mentores do “25 de Abril” e da democracia lhe proporcionaram. Cresci e vivi com ela quase 40 anos da minha vida, excepto quando à noite recolhia à sua “`parte de casa”, eu ia de férias para a Galiza ou ela se ausentava para Messines, normalmente em Setembro. Quando cheguei à adolescência adorava atender telefonemas de namoradas ou amigas minhas. Achava-me um tanto debochado. Conheceu um bisneto e teve dois netos “formados”. Uma vida no século XX português. Sempre a subir. Na geografia e na hierarquia social. Pouco, mas com firmeza e muita determinação. Tenho saudades suas. Um beijo, avó.

Livros & Leituras


Parto a 8. Regresso a 27. Para dar um ar sério aqui ao estabelecimento, informo que para ler nas férias levo: Marcel Timotheo da Costa, Um Itinerário no Século: Mudança, Disciplina e Acção em Alceu Amoroso Lima, Rio de Janeiro – São Paulo, Editora PUC – Edições Loyola, 2006. Uma oferta do autor que conheci e gostei muitíssimo de ouvir na Unisinos em Porto Alegre, já lá vão duas ou três semanas. Ainda sobre o Brasil, e para concluir a leitura, levo um clássico sobre a história contemporânea do “país irmão”: Thomas Skidmore, Brasil: De Getúlio Vargas a Castelo Branco (1930-1964), 14.ª ed., São Paulo, Paz e Terra, 2007. Para reler e escrever alguma coisa sobre, de José Medeiros Ferreira, Cinco Regimes na Política Internacional, 1.ª ed., Lisboa, Ed. Presença, 2006. Ainda para acabar de ler,, na verdade estou ainda a começar, o 2.º volume da série “Children of Violence”, A Proper Marriage de Doris Lessing. Tentarei nada escrever aqui no desconcertante sobre os livros que levo e que vou ler.

3.8.07

O novo estatuto dos jornalistas…

Santos Silva, o mais notável cão de fila do Governo que temos, reagiu ao veto presidencial à nova lei sobre o estatuto dos jornalistas, afirmando que o dito veto não punha em causa o essencial do dito estatuto. É verdade. O veto de Cavaco só dizia e diz, basicamente, que a alteração ao estatuto dos jornalistas proposto pelo Governo e aprovado pelos Srs. deputados do PS era e é, na totalidade, uma merda. Basta ler aqui a “Mensagem do Presidente da República à Assembleia da República, a propósito do diploma que altera o Estatuto dos Jornalistas.” Quanto ao resto, só queria dizer que esta gente que nos governa não tem um pingo de vergonha na cara e, como tal, é perigosa, muito perigosa!

A Independência da Justiça

A notícia do arquivamento pela Procuradoria Geral da República (já agora vale a pena ler estes dois textos de Paulo Gorjão e de João Gonçalves), é o sinal claro de que também em Portugal a justiça é absolutamente independente do poder político. Não acreditam?

Crimes sem castigo

A violação e o assassinato de uma adolescente em Tenerife há um par de semanas, com o homicida confesso já detido, é para mim um sinal claro de que na chamada Europa civilizada crimes como este devem ser punidos com penas a sério. Talvez ainda seja cedo para reclamar a reintrodução da pena de morte. Mas já é tempo de se voltar à prisão perpétua sem perdão. É que não há esperança de nada e para nada.

2.8.07

Exonerações

A não renovação da comissão de serviço a Dalila Rodrigues, directora do Museu Nacional de Arte Antiga, foi justificada por Bairrão Oleiro pelo facto daquela ter criticado as opções do Ministério da Cultura e do Governo para a gestão dos museus e daquele em particular, independentemente dos esplêndidos resultados apresentados pela agora quase anterior equipa (são eles, por exemplo, a grande subida verificada no número de visitantes e o crescimento muito significativo das receitas). Visto o ridículo da coisa, só quero acrescentar que caso a moda pegue ainda veremos o Governo exonerar a grande maioria dos eleitores portugueses pela simples razão de que, também eles, criticam, pública, dura e quotidianamente, as principais opções políticas emanadas de São Bento e demais filiais.

A essência da «democracia “carolinácea”»

É verdade, como pensa e escreve João Gonçalves, que vivemos, e não é de hoje, numa «democracia “carolinácea”». No entanto, a família Salgado não veio para ficar. Outras houve antes dela, e outras lhe sucederão. O povo democrático, aqui como em qualquer outro sítio, na sua vulgaridade, rapidamente se cansará destes Salgados e clamará por outros. Por agora, aqueles que temos, e como muito bem sabem, vão tendo o seu protagonismo e, à custa deste, tentarão encher os bolsos o mais que lhes seja possível. Depois? Depois, outros virão acarinhados pela democracia da vulgaridade e da mediocridade e pelo mercado que tudo cria e tudo devora. Valha a verdade que o fenómeno não me choca. Até por que, e ao menos nestes casos, aceito bem a vida como ela é.

1.8.07

Sexo, 237

Parece que há, ao menos, 237 razões para fazer sexo. Confesso que nunca tinha pensado no assunto e que continuarei a ignorá-lo. Mas para saber mais é ir aqui este sítio da Universidade do Texas em Austin. Os investigadores do projecto ficam todos contentes.

Penas capitais

António Costa, o ex. cabo da GNR acusado de autor de três homicídios e de mais um bom par de outros crimes, foi condenado a uma pena 25 anos, podendo sair em liberdade, mais coisa menos coisa, quando tiver cumprido cerca de metade do tempo previsto (ou ao fim de pouco mais de cinco anos segundo o Correio da Manhã). Sinceramente não percebo uma coisa destas. Ou o nosso sistema e quem o construiu acredita cegamente na extraordinária capacidade de regeneração dos homicidas, ou então tem sérias dúvidas quanto à qualidade da investigação criminal e à sua capacidade de produzir provas que não deixem dúvidas quanto à adequação das penas aos crimes julgados.