24.10.07

Duas Notas

Sobre o 2.º episódio de "A Guerra" transmitido ontem na RTP, apenas duas notas.
A primeira, para sublinhar que o fracasso da "abrilada" conduzida por Botelho Moniz e Costa Gomes foi uma bênção para Portugal, apesar de ter tornado inevitável a guerra colonial (ou, sobretudo, por ter tornado inevitável a guerra colonial). Instigada pela Administração Kennedy e contrariada pela vontade de Salazar, Américo Tomás, Kaulza de Arriaga e Adriano Moreira, o triunfo dos "ultras" sobre os "reformadores" do regime, evitou a "latino-americanização" do país. De facto, Kennedy e os seus "rapazes" pensavam que podiam determinar a vida política portuguesa em 1961 (através de um golpe militar e, um mês antes, com o apoio dado ao terror da UPA no norte de Angola), do mesmo modo que outras administrações norte-americanas se tinham habituado a influenciar os destinos de boa parte dos países latino-americanos desde o século XIX. Irónico é o facto de Kennedy ter fracassado em Lisboa em Abril de 1961 e em Angola um mês antes, da mesma forma que, com a CIA e os famosos exilados cubanos, fracassou na Baía dos Porcos na terceira semana de Abril de 1961.
Uma segunda nota para o facto de um terrorista da UPA, entrevistado por Joaquim Furtado, condenar, iniciada já a guerra em Angola, o bombardeamento indiscriminado, pela Força Aérea Portuguesa, do "mato" angolano, e do qual decorria a morte de muitas mulheres e crianças que no "mato" naturalmente viviam. Ora este terrorista era exactamente a mesma personagem que, no episódio anterior, achava absolutamente legítimo que a UPA tivesse assassinado a sangue frio, olhos nos olhos, na sua ofensiva de Março no Norte de Angola, milhares de mulheres de velhos, mulheres e crianças brancas, mestiças e pretas. Palavras para quê?

2 comentários:

Luís Aguiar Santos disse...

Bem visto. É engraçado que nos cruzamos sempre com gente que acha que qualquer golpe contra Salazar era necessariamente bom. Abraço.

Fernando Martins disse...

Muito animador o teu comentário. Outro abraço.