Foto: Bandeira de Ceuta
As visitas do rei Juan Carlos e de Dona Sofia a Ceuta (ontem) e a Melilla (hoje) merecem atenção e cuidados por gerarem dúvidas e inquietações. Em ambos os enclaves rei e rainha foram recebidos por milhares de pessoas aos gritos de "Viva España!", enquanto no Marrocos as autoridades nacionais punham publicamente em causa, e em termos razoavelmente violentos, a legitimidade da soberania de Madrid naquelas duas praças, comparando-as até à situação dos territórios da Palestina ocupados por Israel.
As visitas, que nunca tinham acontecido desde que a democracia foi instaurada em Espanha após a morte de Franco, eram uma reivindicação das populações e das autoridades daqueles territórios. Dona Sofia e o rei nunca tinham aceite os convites que lhe eram dirigidos pelas autoridades das duas cidades pela simples razão de que a sua presença despertaria indesejáveis fantasmas marroquinos e coloniais. Mas, e sobretudo, pela simples razão de que em nenhum momento dos seus mandatos Suarez, González ou Aznar necessitaram de ir tão longe, enviando os reis ao Marrocos espanhol, para manifestarem a sua dedicação a Espanha e o seu empenho na unidade do Estado. Em vésperas de eleições legislativas, e com uma governação manchada pelas absurdas cedências feitas aos nacionalismos e aos regionalismos, é natural que Zapatero arrisque tanto na relação de Espanha com Marrocos para tentar ganhar alguma credibilidade numa área em que cedo desperdiçou, junto do eleitorado moderado, um pouco capital que no início do seu mandato naturalmente possuiu. Resta apenas saber se, e apesar das aparências, a visita do rei e da rainha a Ceuta e a Melilla foram combinados com a monarquia marroquina e que preço pagarão espanhóis – nomeadamente os que vivem e trabalham naquelas duas praças fortes – por terem finalmente recebido aos gritos de “Viva España” el-rei Juan Carlos e Dona Sofia. Resta também saber se a Casa Real conhece os termos de uma muito provável transacção.
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