12.9.07

Minorias

Nunca liguei muito às "minorias", sejam elas nacionais, étnicas, culturais, sexuais ou outras. E no entanto a “humanidade” nunca as ignorou. Fosse por bons ou, sobretudo, maus motivos. Perseguiu-as, humilhou-as, expulsou-as, descaracterizou-as, ou pura simplesmente matou-as. Hoje em dia são tanto vítimas do mais puro racismo e xenofobia, como alimento indispensável de grupos políticos dos mais variados que as perseguem ou dizem pretender protegê-las.
Vem isto a propósito das já muito famosas e comentadas declarações de Maria José Nogueira Pinto. Segundo a “Dra.”, as lojas chinesas, presumo que pela baixa qualidade do serviço prestado e escassa aparência estética e de classe, devem ser removidas da Baixa lisboeta e colocadas numa Chinatown que não se sabe onde ficará. É óbvio que na proposta de Maria José Nogueira Pinto há uma certa dose de racismo e de xenofobia. Mas ela reflecte o sentimento de muitos lisboetas e portugueses, fazendo-nos ainda recordar um tempo em que minorias como a chinesa (embora não em Portugal), a judaica ou a muçulmana conheciam os espaços próprios onde faziam a sua vida, o que acontecia em grandes, pequenas e médias cidades por esse mundo cristão e não só. Valha a verdade que muitas vezes as minorias se autosegregavam, como ainda se autosegregam, o que ajuda a perceber as declarações (à TSF?) de um representante da comunidade chinesa em Lisboa a quem não pareceram mal as propostas ainda informais avançadas pela antiga vereadora do CDS.
É pois perante uma realidade complexa que nos encontramos e sobre a qual não vale a pena tecer grandes considerações de natureza política, social ou moral. Só gostaria de acrescentar que a melhoria do nível dos serviços comerciais prestados na Baixa não depende apenas da remoção do comércio chinês. Desde do tráfico de droga à prostituição, passando por muito comércio nacional, a Baixa é um local onde se concentra aquilo que de pior existe na capital portuguesa. Daí que a remoção do comércio chinês, que presta um serviço à altura do poder de compra de muitos lisboetas, não resolva qualquer problema da Baixa. A eventual saída do comércio chinês da Baixa, sem uma substituição nacional ou estrangeira à altura, caso os portugueses não vejam subida sensível no seu poder de compra nos próximos tempos, acabará por agravar ainda mais o problema da desertificação do centro da capital. É, portanto, um problema de mercado. Aliás, no dia em que os portuguesas estejam mais ricos as lojas chinesas, como existem, terão uma de duas hipóteses. Ou vão para outras paragens por falta de clientela, ou melhoram todos os aspectos do serviço que prestam acompanhando as exigências dos consumidores.

2 comentários:

João Miguel Almeida disse...

Um post sensato. Bem me dizia a Miss Pearls, que encontrei no outro dia na BN, que tinha almocado contigo e te tinha na conta de um homem sensato.

Fernando Martins disse...

"Muchas gracias"! Só é pena nunca sermos nós dois a almoçar, por mais saudável que seja para o espírito partilhar uma mesa no refeitório da BN com a Miss Pearls.