19.9.07

Aquilino, o novo inquilino

Por maior que possa ser a qualidade literária da obra de Aquilino Ribeiro, tenho a certeza de que os ossos de pelo menos duas dúzias de escritores portugueses mereceriam, muito mais do que as do autor do Malhadinhas, repousar no Panteão Nacional. Diga-se também que outros tantos já falecidos terão tido qualidade idêntica e, portanto, deveriam já lá estar ou ir a caminho.
Por isso, e a não ser que seja por razões políticas e ideológicas que não discuto e considero legítimas, Aquilino não merece especialmente ficar ao lado de quem quer que seja no Panteão (o mesmo pode ser dito, por exemplo, para o caviloso “presidente-rei” Sidónio Pais).
Mas mesmo por razões políticas (os celebrados “republicanismo” e/ou “antifascismo” de Aquilino), outros escritores seus contemporâneos, ou quase (como Jorge de Sena, Ferreira de Castro, José Rodrigues Migueis ou Soeiro Pereira Gomes), teriam tantos ou mais méritos para merecer a distinção de serem reconhecidos como heróis da pátria, sendo no entanto certo que a muitos deles lhes falta, (in)felizmente, o selo maçónico outorgado pelo Grande Oriente Lusitano e a patine de uma tão presumível como inverosímil participação no assassinato de D. Carlos e do príncipe Luís Filipe.
Tirando esta confusão, não se percebe o motivo pelo qual o escolhido foi Aquilino (amigo íntimo e conterrâneo de Santos Costa), embora muita gente não tenha muitas dúvidas em encontrar vários, tanto por boas como por más razões. Certo é que a opção por Aquilino baralha, e muito, as possibilidades de escolhas futuras naquilo que à da literatura pátria diz respeito. Temo aliás que no futuro, e mais do que seria desejável, o sectarismo político-ideológico comande a prévia escolha dos esqueletos a depositar para as bandas da Feira da Ladra. Isto apesar de lá repousarem os ossos de Carmona, "pedreiro-livre", presidente da República da Ditadura Militar e do Estado Novo entre 1926 e 1951, muitas vezes um importante rosto de uma oposição moderada a Salazar e um dos mais populares chefes de Estado do século XX português.

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