25.9.07

O bunker de Archie Bunker

Excelente na forma e na análise este texto de Pedro Correia no Corta-Fitas sobre “Uma Família às Direitas”. Só discordo da conclusão. Em primeiro lugar, pelo facto de me parecer que a televisão, a começar pela norte-americana, e sobretudo a norte-americana, continua a produzir ficção – ou “séries” – de primeiríssima água. Em segundo lugar, não tenho quaisquer dúvidas de que na generalidade das boas séries, em tudo muito diferentes de “Uma Família às Direitas”, e não podia ser de outro modo, a questão do “politicamente correcto” não se coloca ou até se coloca para ser questionado ou demolido. Em terceiro lugar, por não concordar com a ideia de que os americanos são globalmente tacanhos e que aquilo que Archie Bunker representaria na série era apenas, ou sobretudo, sinónimo de tacanhez. Deixando para outra altura, se for caso disso, a questão da (não) tacanhez dos americanos, parece-me um tanto superficial que se conclua pela tacanhez daquilo que Archie Bunker e, eventualmente, a sua mulher representavam. Um Bunker de ideias e valores sem sentido e condenadas a ser trucidadas pela história. Uma avaliação destas das personagens protagonistas da série equivaleriam, justamente, a reduzir ao politicamente correcto os valores e o modo de vida que, muitas fezes em forma de caricatura, ambos personificavam. Aliás, se de pura tacanhez se tratasse jamais a série teria tido o êxito que conheceu à época e a actualidade estética e de mensagem que ainda hoje mantém. Toda a gente via que não se tratava apenas de tacanhez. Nem que seja pela prosaica razão de que os tacanhos, muito mais do que os intelectuais, têm quase sempre muito mais possibilidades de virem a ser resgatados pela história. A quem é que a história deu razão a partir de finais da década de 1980? A Archie Bunker ou ao seu genro e filha? Felizmente aos mais velhos. Pode não ter sido uma vitória em todos os tabuleiros, nem é sequer uma vitória irreversível. Antes pelo contrário. Mas é ainda assim uma vitória. Daí que quando revi a série há uns dois ou três anos tenha acabado por concluir que Archie, ao contrário daquilo que sustenta Pedro Correia, não era tacanho, apenas tacanho ou, sobretudo, tacanho. Era esperto, inteligente e, sobretudo, senhor de um saudável senso comum. E o sendo comum prevaleceu. Outra coisa é saber se prevalecerá no futuro.

1 comentário:

Pedro Correia disse...

Independentemente das divergências de pormenor, fica o facto fundamental de sermos ambos fãs incondicionais da série. Gostei do teu texto também.
Abraço