30.6.07

Como Não Podia Deixar de Ser...

A minha ignorância informática não permite que reproduza aqui a imagem do AVISO que Daniel Oliveira publicou anteontem no Arrastão. Mas não é por isso, e como não podia deixar de ser, que não deixarei de fazer minhas as sábias palavras que lá estão escritas. Tanto na letra como no espírito.

29.6.07

Da Popularidade da Delação.

Pelos vistos, a exoneração da Directora do Centro de Saúde de Vieira do Minho começou com uma denúncia feita por um dirigente da Juventude Socialista local (acabo de ouvir a notícia na Antena 1). Depois, a denúncia fez o seu caminho até ao Sr. Ministro Correia de Campos. Daqui talvez possa deduzir ao menos duas coisas. Que o PS tem um serviço de informações bem montado e relativamente eficaz. Que em Portugal, hoje como ontem, há quem se pele por denunciar e ver a sua denúncia produzir resultados. Ainda alguém dúvida que Estado Novo, Salazar e Marcello Caetano foram um regime político e dois dirigentes políticos extremamente populares.

O Cada Vez Mais Governo Fraco

O Sr. ministro da Saúde deu-se ao trabalho de despedir a directora de um Centro de Saúde localizado a uns 400 km de Lisboa pelo singelo facto de a pobre senhora não lhe merecer confiança (política). A história que levou o ministro a concluir tal coisa, remonta ao facto de um médico do dito Centro ter afixado no seu interior uma fotocópia com uma entrevista dada pelo citado ministro a um jornal. Como se não bastasse, o médico, pessoa inconveniente, acrescentou à dita entrevista um comentário jocoso. Segundo o ministro, a senhora directora, que entretanto o mesmo ministro também descobriu ser incompetente para desempenhar o cargo para que fora nomeada (vá-se lá saber porque razão as direcções dos centros de saúde são de confiança política), não terá sido suficientemente expedita a mandar retirar a entrevista e, presumo, em agir disciplinarmente contra o médico atrevido.
Visto tudo isto, até poderei compreender que os serviços da administração pública central, regional ou local não possam nem, eventualmente, devam ser invadidos por papelinhos repletos de comentários jocosos de todo o tipo produzidos pelos próprios funcionários. Mas ao mesmo tempo, e valha a verdade, qualquer pessoa minimamente razoável percebe que não é por causa do "jocosismo" que este governo descobriu e combate como nenhum outro na nossa história recente, que a administração pública portuguesa melhora ou piora e que a autoridade de qualquer governo é posta em causa. Por isso, só posso concluir que este caso, como o da DREN, é o sinal claro de que o governo que temos se sente fraco e acossado. E como se sente fraco e acossado age de forma mesquinha e cobarde.

28.6.07

A Abalada de Tony Blair

A saída de Blair da chefia do governo de Sua Majestade parece estar já a deixar muita gente saudosa da personagem. Para dizer a verdade, o cavalheiro nunca me aqueceu nem arrefeceu. Penso que esteve bem ao apoiar a invasão do Iraque, embora hoje a dita parece ter tudo para poder vir a ser considerada como o primeiro grande fracasso político, militar e diplomático do século XXI. Mas se gostei de Blair no apoio à intervenção político-militar no país de Saddam, muita coisa houve no líder trabalhista com que embirrei. Muitas vezes coisas sem importância, simplesmente ligadas à forma como os políticos se comportam publicamente. De qualquer modo embirrei muito, desde o primeiro momento em que a vi, com a mulher – uma pirosa sem classe absolutamente nenhuma. Em segundo lugar, e fico por aqui, sempre me irritou em Blair aquela sua mania de querer sempre parecer muito bondoso e muito compreensivo para com o povo, ou de aparecer pelos Pubs, diante das câmaras de TV, bebendo descontraidamente cerveja como qualquer britânico de classe média baixa.
Mas voltemos à questão da saudade. Isto porque devo declarar que, em pouco mais de 20 anos de vida adulta, não me lembro de alguma vez ficar comovido com a “abalada” de um político, fosse ele português ou não. Talvez porque pouco depois de terem entrado, e quando dou por eles, começo logo a fazer força para que se vão embora. Seja dos governos, seja dos partidos, seja dos sindicatos ou das confederações patronais. Decididamente não tenho nem nunca tive paciência para políticos vivos. Também nisto um digno representante do populacho lusitano.

26.6.07

O Dono da Bola

Anda para aí muita gente, a começar e a acabar em Vital Moreira, indignada com o comportamento de Joe Berardo para com o gigantone Mega Ferreira. Critica-se-lhe também, a Berardo está bom de ver, a falta de compostura e as calinadas no português, ou seja, a falta de refinamento cultural que como se sabe a nossa esquerda mais ou menos caviar tem para dar e vender. No caso de Vital Moreira ficar-lhe-ia muito bem reconhecer que Berardo faz o que faz pelo simples facto de ter o Governo, e o próprio Sócrates, na sua mão, o que apenas sucedeu por vontade expressa do nosso primeiro que não descansou enquanto não deu a Berardo tudo o que este queria recebendo em troca uma colecção de arte que não se sabe se fica ou se vai. Os outros não perdoam a Berardo as origens humildes, a subida na vida a pulso, a frontalidade, o desprezo pelo ridículo e absurdamente amaneirado establishment político, social e cultural português e, claro está, o facto de ter dinheiro, muito dinheiro. Por mim, só pelas correntes de ar e consequente arejamento que Berardo provocou nos últimos dias, só me resta agradecer-lhe o facto de, como ele diz, ter escolhido vir para Portugal e não se ter mudado de armas e bagagens da África do Sul para a Austrália, para os EUA ou para o Reino Unido. Um grande bem-haja e que mais Berardos dêem à nossa pobre costa.

O Milagre Espanhol

Em termos relativos, e segundo os dados fornecidos por um organismo dependente das Nações Unidas, consome-se hoje em dia em Espanha mais cocaína do que nos EUA. Se assim for, e tendo em conta a dimensão de uma e de outra economia, recordando ainda o facto de em Espanha se manusear uma percentagem elevadíssima de todas as notas €500 em circulação por esse mundo fora, não restarão muitas dúvidas quanto às causas e à natureza de uma boa parte do quase transcendente milagre económico espanhol.

25.6.07

Fernando Negrão no RCP

Foto: expresso.clix.pt
Também eu ouvi hoje de manhã Fernando Negrão no RCP afirmar que considerava a possibilidade, caso venha a ser eleito presidente da Câmara Municipal de Lisboa, de extinguir o IPPAR e a EPUL. A EPUL, e porque falou em abastecimento de água, percebi que era a EPAL. O IPPAR não sei se era o dito ou outra coisa qualquer que não sei se veio a ser esclarecida lá para o fim da entrevista que não quis acompanhar até à sua consumação final. No meio desta trapalhada não só percebi por que razão o "entrevistador", João Adelino Faria, tão solícito noutras conversas do mesmo tipo, permitiu que Negrão repetisse até à náusea gafes tão ridículas. Será que foi por achar que a EPUL é a EPAL e o IPPAR qualquer coisa que não descortinei, ou apenas pelo simples facto de ter o prazer (indiscreto) de ver o seu entrevistado enterrar-se até ao coiro cabeludo?

24.6.07

"Jornalismo"

Hoje morreram no Líbano, vítimas de um acto terrorista, seis militares espanhóis pertencentes ao contingente de "capacetes azuis" que tenta ajudar a pacificar aquele estranho país. O Público on-line achou por bem dar a notícia com o seguinte título: "Líbano: comandante português escapou ao atentado que causou seis mortos ao contingente espanhol." Isto é jornalismo de investigação, demonstração de patriotismo serôdio ou apenas estupidez?

Ler os Outros

Até um catedrático de Direito pode pensar e dizer disparates. Mas tudo deveria ter limites. Defender a saída do Reino Unido da União Europeia pensando que tal coisa só beneficiaria a mesma é um disparate sem limites. A não ser, claro está, que se trate de um momento de humor pelo, penso, o dito professor deverá ser muito reconhecido em terras do Mondego e nas traseiras da Assembleia da República.

O Eurodeputado Sérgio

Na passada sexta-feira assisti a parte do Expresso da Meia-Noite na SIC-Notícias. Lá estava, entre outros, o eurodeputado socialista Sérgio Sousa Pinto (lembro-me dele por causa das causas fracturantes que legitimamente defendia na Assembleia da República e nas reuniões aparelhisticas nos tempos de António Guterres). Foi impressionante, ou talvez não, ouvi-lo derramar sobre as ondas hertzianas uma enorme ignorância sobre a Europa e a sua história e, por causa disto, proclamar com a maior arrogância político-ideológica a bondade de um novo tratado constitucional que muito legitimamente – concorde-se, ou não – muitos políticos europeus e muito bom povo europeu ou se recusa a aceitar nos termos em que tem sido apresentado ou, ao menos, quer ver ser discutido e referendado. De qualquer modo, e para aqueles que detestam este tratado e esta Europa não há nada que lhes possa render tanto como a estupidez do Sérgio eurodeputado.

Europa, Poder e Devoção

Por deformação profissional leio muito os jornais portugueses do tempo da Ditadura Militar e do Estado Novo. Pelas mesmas razões, também conheço razoavelmente a televisão "fascista" portuguesa. Quando vejo a cobertura que os media lusos se estão a preparar para fazer desta terceira presidência portuguesa da União Europeia não vejo, em geral, outra coisa que não seja a mesma submissão voluntária ao poder, o patriotismo bacoco, a devoção e a evocação do "pensamento" único (na linha daquilo que acontece quanto a selecção portuguesa joga à bola em qualquer fase final). É por estas e por outras que não duvido terem os portugueses, e especialmente grande parte das suas elites, uma paixão secreta pelos governos fortes, os líderes iluminados e um horror à discussão séria em torno das coisas que realmente interessam. E a verdade é que tanto a "Europa" como a presidência portuguesa interessam e muito.

22.6.07

Tratado Europeu: um meio ou um fim?

Tanto quanto se pode perceber o novo tratado europeu que anda a ser negociado nas costas dos seus cidadãos será um meio, entre outros, que servirá para melhorar a “Europa” e a vida daqueles que por lá habitam. Dito isto, não percebo porque razão estas discussões em torno de novos e velhos de tratados decorrem sempre como se estes fossem o fim da Europa e, portanto, o mais importante e o mais dramático de tudo aquilo que a “Europa” faz e a “Europa” discute. E depois, há sempre aquela história de tentar antecipar o melhor ou pior cumprimento do tratado por parte daqueles que o hão-de assinar.

A política da insenção

É demagógica, perigosa e leviana a ideia peregrina, por parte do nosso governo, em isentar de taxa moderadora a prática de aborto nos hospitais públicos. É demagógica porque pressupõe que o aborto é apenas uma questão social – da ideológica não falo agora –, e que por isso afectará, sobretudo, mulheres de estratos sociais baixos ou muito baixos. É perigosa porque considera o aborto como um acto médico de grande prioridade para o sistema de saúde público e para a sociedade que o sustenta com os seus impostos. É leviana porque transforma quem aborta numa prioridade em termos de saúde pública, mas também do ponto de vista da forma como o estado interpreta a sociedade e política. Visto isto, cabe perguntar o que é que sentirão uma plêiade de cidadãos maiores de 12 anos que recorrem ao sistema de saúde pública por serem portadores de todo o tipo de doenças ou por necessitarem dos variados serviços quando o Estado lhes diz que social, política e ideologicamente, essas doenças e a prestação desses serviços são menos importantes do que a prática de um aborto.

20.6.07

Desinteressadamente

Se há coisa de que a Espanha e os espanhóis se podem orgulhar nos últimos tempos é de terem conhecido uma verdadeira avalanche de políticos bondosos, generosos e voluntariosos. Diria mesmo que constituídos por uma outra fibra moral. E tudo isto por causa da questão do terrorismo etarra. O último grande estadista do país vizinho a destacar-se na modesta apresentação pública de tamanhas qualidades foi o lehendakari Ibarretxe. Diante dos jornalistas, com a mão no peito, literalmente, explicou, muito bem explicadinho e para quem queira ou possa acreditar, de que forma tentou fazer a paz com a ETA. Como é óbvio, fê-lo sempre pensando no bem da democracia e nunca beliscando tanto a dignidade desta como a sua. Em Espanha não só os políticos não mentem, como, ao contrário de todos os outros, só pensam no bem geral, desinteressadamente atingido através da "paz"!

Outra vez a União Europeia

A partir do dia 1 de Julho, uma norma da União Europeia irá proibir que se associe qualquer bebida alcoólica com mais de 1,2.º à posse de quaisquer propriedades saudáveis. Isto, apesar da ciência (paga pela União Europeia) e do senso comum (que paga a União Europeia) sustentarem exactamente o contrário. Uma vez que um consumo de refrigerantes também não é nada saudável (União Europeia dixit), só nos resta beber água. Aguarda-se agora, ansiosamente, que a mesma União Europeia nos diga que tipo de água poderão os europeus beber sem melindrar a autoridade daqueles que, em Bruxelas e Estrasburgo, zelam por nós.

19.6.07

Publicidades e Proibições

Um senhor europeu veio dizer que a "Europa" avalia a possibilidade de proibir, com o objectivo de proteger a saúde das nossas crianças, a publicidade à "fast food". A confirmar-se, e perante tal absurdo e a manifestação tão óbvia de clara simpatia por princípios e práticas totalitárias, não seria altura de alguém proibir a "publicidade" à União Europeia?

18.6.07

L’amour! Toujours l’amour!

Ao saber da notícia da separação e previsível divórcio de madame Ségolène Royale, lembrei-me logo do Daniel Oliveira do Arrastão e da sua tese segundo a qual o amor é a base do casamento. Neste caso, tornou-se evidente que o amor que durante anos fora o cimento que unira um casal apaixonado terminara de acabar, nada indicando, apesar da coincidência da data e de dichotes mal intencionados, que, por exemplo, o dito divórcio tenha qualquer coisa que ver com negócios políticos (ou que a continuação do casamento decorria da natureza dos intereses associados aos negócios políticos de Hollande e Royale). Esperemos que ambos, Royale e Hollande, reencontrem rapidamente o amor e reconstruam as suas vidas. Afinal viemos a este mundo para estar felizes, para ser felizes! Embora, valha a verdade, sempre me tenha parecido que os socialistas estavam no mundo para fazer os outros felizes. Qualquer que seja o preço a pagar!

Triste Figura

Maria José Nogueira Pinto esteve hoje pela manhã no Rádio Clube Português. Falou antes de Júlio Pereira do "cavaquinho", e tal como este foi tratado com toda a simpatia por parte do jornalista que conduziu a conversa(o inefável João Adelino Faria). Apesar de inúmeras vezes ter batido com a mão no peito dizendo que é de direita e que, muito provavelmente, não há ninguém tão de direita como ela, Maria José Nogueira Pinto passou o tempo todo a elogiar a candidatura desse grande direitista (ou endireita) chamado António Costa. É verdade que não se conhece o programa do candidato, mas mesmo assim Maria José não lhe regateou elogios. Desde logo, pelo simples facto da sua lista ter pouca gente do aparelho socialista de Lisboa, como se isso fosse garantia de alguma coisa e como se o aparelho, caso não venha a ser servido por António Costa depois de eventualmente eleito, não deixe claro que virá a fazer a vida negra ao ex. ministro feito entretanto o autarca dos autarcas.
Pelo meio, elogiou Helena Roseta, Sá Fernandes e Ruben de Carvalho em quem não votará, ao menos no caso dos dois últimos, apenas por razões “ideológicas” – argumento demolidor que nunca usou em relação a António Costa. Quanto ao candidato do CDS, o seu antigo partido, Maria José garantiu ser impossível que o dito possa alguma vez ser, simultaneamente, líder parlamentar e vereador a tempo inteiro na Câmara, chamando assim a atenção, e bem, para o facto dos eleitores daquele partido estarem a escolher o número dois da lista. Quanto a Negrão, e como seria de esperar, Maria José tentou desacreditá-lo como candidato. E porquê? Porque deixou Setúbal para vir concorrer a Lisboa!
Eu gostava de saber porque razão uma mulher que é tida como inteligente e politicamente séria, se mete a dizer estas incongruências, certamente convencida de que quem a ouve é desprovido um grama de inteligência. Recorde-se, por isso, que também ela deixou a meio um mandato para o qual tinha sido eleita por muitos lisboetas, e que o desejado António Costa, pelo qual incondicionalmente se enamorou, também deixou o Governo para ser candidato à CML e já tinha deixado o Parlamento Europeu para poder ser feito ministro. A minha modestíssima explicação para esta atitude por parte da antiga vereadora do CDS em Lisboa é apenas uma. Maria José Nogueira Pinto terá deixado o seu partido e o seu cargo pela simples razão de que esperava, e ela saberá porquê, vir a ser a cabaça de lista do PSD nas actuais eleições intercalares de Lisboa. Como a coisa não correu como pensava ou como poderia até ter sido conversado com gente graúda do PSD, Maria José arranjou com estas declarações maneira de fazer o PSD começar a pagar pela escolha que não fez. Quanto ao futuro que Maria José quer risonho para uma nova direita em Portugal, só me corre dizer que com gente como esta a dita direita está absolutamente conversada.

16.6.07

Poder & Ideologia.

A este texto de Paulo Gorjão, com o qual não posso deixar de concordar, só acrescentaria que para José Sócrates a “acumulação de força” e de “recursos de poder” não são apenas um fim em si mesmo. Eu diria que são a sua ideologia.

Notícias de sempre

Segundo o semanário Sol de hoje – e tratam-se de declarações feitas por Francisco Van Zeller – muitos dos empresários que financiaram o estudo para a construção de um novo aeroporto no campo de tiro de Alcochete, desejaram manter o seu anonimato por recearem o exercício de retaliações ilegítimas por parte deste Governo. Ficámos, portanto, elucidados acerca do grau de coragem destes empresários e com um cheirinho acerca daquilo que são as saudáveis relações entre a iniciativa privada e o Estado e entre esta e aquela. Será que ninguém pode fazer incidir alguma luz sobre a natureza daquelas relações e de muitos dos pormenores mais ou menos picantes que as distinguem?

Conselho

Não ouvir o Rádio Clube Português até à uma da tarde. Estão lá a falar, e não se calam, jotas de não sei quantos partidos. Nunca ouvi gente tão pouco recomendável.

A "ordem"

O fascínio pela "ordem" e pelo exercício da autoridade, contra tudo e contra todos, vem sempre de onde mais se espera. Por mais que os fascinados pelas ditas passem a vida a jurar que "ordem" e "autoridade" são coisas que só dizem muito taos outros.

15.6.07

30 anos

Trinta anos depois da realização das primeiras eleições livres em Espanha após a morte do caudilho Francisco Franco Bahamonde, os nossos vizinhos do lado estão mais ricos e mais modernaços. Estão também, em muitos aspectos e como nós, mais medíocres e vulgares. Não sei, no entanto, se têm razões para ter uma grande confiança no futuro. Afinal, a democracia, ao abrir a Caixa de Pandora do nacionalismo e do inerente sectarismo político, ideológico e cultural, confronta-se com um problema que tem sido incapaz de resolver (presumindo que pode ser resolvido). Zapatero, homem de fé, acredita que abrindo completamente a dita Caixa os problemas se resolverão por si. Afinal, e do seu ponto de vista, os espanhóis são todos boas pessoas – com excepção dos líderes do Partido Popular – e a Espanha chegará a bom porto com a boa-vontade de todos, nem que para isso passe à história (ele por resolver o problema, ela por deixar de existir). Por mim, recomendaria menos fé, mais realismo e algum pessimismo antropológico.
Portanto, quanto ao problema nacional que atormenta a nossa vizinhança, e do prisma exclusivo dos interesses portugueses, faço votos para que não se resolva nunca. Sobretudo se isso implicar o desaparecimento do Estado espanhol e a sua inevitável balcanização. Não me parece que fosse, digamos, particularmente interessante o regresso da Ibéria à Idade Média na política. Por mais que saibamos que no fim chegam Fernando de Aragão e Isabel a Católica. E el-rei D. João II.

14.6.07

Os jornalistas…


Foto: jose.antonio.marcos.web.simplesnet.pt/abutre2.jpg

… no caso Madeleine McCann, comportam-se como abutres ou aves de arribação?

Defender o indefensável?

A Faixa de Gaza, o Hamas e o Egipto.

A propósito daquilo que nos últimos dias está a acontecer na Faixa de Gaza, com o Hamas a tomar o poder de forma violenta, para não dizer brutal – do que decorrerá, em termos nunca vistos, a extensão da influência iraniana às fronteiras do Egipto –, será interessante estar atento à reacção que o Governo do Cairo poderá estar a preparar. Para já, a dúvida a que importa responder é relativamente simples. Saber com quem é que a diplomacia egípcia anda a falar e o que é que anda a dizer…

“Meritocracia”

José Sócrates, o maior dos meritocratas do mundo e arredores, congratulou-se hoje, aos microfones de vários media, pelo facto de a reforma da função pública estar em marcha. Diz ele que agora as promoções irão, absolutamente, depender do “mérito.” Conhecendo-se o conceito de meritocracia que guindou Sócrates à sua excelsa licenciatura, ficamos todos, sinceramente, descansados com o teor das soluções que serão encontradas para guindar todos e cada um dos funcionários públicos ao topo das respectivas carreiras profissionais.

13.6.07

Bruxedos?

Não sei se foi bruxedo, mas uma irritante avaria no meu portátil (recorro agora a um Acer emprestado pelo CIDEHUS), e o consequente afastamento do mundo por falta de accesso à World Wide Web, impediram-me de vir aqui desde o passado fim de semana. A partir de amanhã tentarei voltar com regularidade. As minhas desculpas.

11.6.07

Arrepiar caminho

Pode parecer má vontade minha, mas a verdade é que este arrepiar de caminho anunciado pelo ministro Mário Lino em relação à localização do novo aeroporto de Lisboa (Ota ou Alcochete é agora a dúvida), parece não passar de um recuo táctico com o objectivo de facilitar a vida a António Costa na sua candidatura à Câmara Municipal de Lisboa. Em Agosto logo se verá, por mais que Cavaco pareça ir pressionando para que o Governo avance para a margem sul e abandone a Ota.

10.6.07

No Irão…

o regime e o governo tiranizam mais e mais. Mas apesar do vigor das oposições, apoiadas política e financeiramente pelos EUA, nem sempre o bem triunfa sobre o mal. Presumo que para satisfação de muitos democratas que pululam pela “velha” Europa.

8.6.07

O ressuscitar do Conselho da Europa?

Como seria de esperar, lá se descobriu que vários governos europeus colaboraram com a administração Bush e a CIA permitindo que, no seu espaço nacional, transitassem e fossem interrogados terroristas e suspeitos de terrorismo islâmico capturados por esse mundo fora. Só gostaria de saber o que é que o denunciante, o Conselho da Europa, pretende fazer com esta delação. Dar ordem de prisão aos prevaricadores romenos, polacos e outros que se venham a destapar de terem colaborado em coisa nunca vista? Fazer contra-espionagem? Minar a solidariedade e a colaboração entre serviços secretos norte-americanos e europeus? Denunciar o combate ao terrorismo nos termos em que vários estados soberanos, sem constrangimentos e legitimamente, decidiram adoptar? Ou tentar fazer ressuscitar aos olhos da opinião pública europeia um organismo que, pela sua irrelevância actual, envergonha os seus mentores e fundadores? E já agora, quem elegeu os representantes dos vários estados europeus com assento no Conselho da Europa?

Nas nossas aldeias

Nas nossas aldeias, onde ainda se matam borregos em casa, dá-se-lhes três vezes com uma maça na cabeça (quem diz três, diz duas, quatro, cinco ou seis…). Depois, com os bichos quase desfalecidos, mas em profundo sofrimento, enfia-se-lhes por uma orelha, atravessando a cavidade que se imagina de um lado ao outro, um instrumento perfurante altamente eficaz pelo afiado que está e pela força e perícia que o matador deverá possuir. Morto o animal, é começar a esfolá-lo. A seguir desmancha-se o bicho e logo vem aquele cheiro horrível a borrego assassinado. Não sei se bem diga as costeletas ou o ensopado de borrego ou a sua apetitosa mioleira, ou se considere, ao menos neste caso, o mundo rural como moralmente inferior ao citadino.

Amar Lisboa

Como é que os eleitores recenseados em Lisboa podem acreditar que a grande maioria dos candidatos à Presidência da Câmara da capital a “amam” e com ela se preocupam? Digo isto pela simples razão de que a cidade que foi em tempos a cabeça de um imenso e rico império, tem sido nas últimas semanas literalmente violentada por uma indescritível poluição visual produzida por milhares de painéis pedindo votos e apresentando mais candidatos do que existem eleitores.

7.6.07

Quanto vale uma intenção?

Numa entrevista à “Cuatro”, estação de televisão propriedade do grupo Sogecable/Prisa, Zapatero falou pela primeira vez sobre algumas das consequências provocadas pela ruptura da trégua entretanto tornada pública pela ETA. Na dita entrevista, e segundo o El Mundo, o chefe do governo espanhol pede, ao fim ao cabo, que os espanhóis julguem a sua política por aquilo que seriam as suas altíssimas intenções (Zapatero “ha insistido en que su derecho y su deber como jefe de Estado era intentar poner fin a la violencia.”). Pode ser que tenha sorte. Mas seria extraordinário que os políticos, e não só, passassem a ser sufragados pelos seus concidadãos em função daquilo que gostariam de ter feito e não fizeram ou fizeram mal, do que pelos resultados daquilo que efectivamente foi feito ou foi prometido mas jamais cumprido.
Mais à frente, Zapatero garantiu que não pode ser minimamente responsabilizado pelo fracasso do processo, reconheceu ter havido encontros directos e indirectos entre gente do governo e terroristas, escusou-se a levantar o véu sob os termos em que a questão do estatuto de Navarra terá sido discutido com os terroristas e no seio do Governo, e por aí fora. Em resumo diria que temos homem. E que homem!
P.S.: Ao dar uma entrevista à "Cuatro", Zapatero não se explicou apenas aos espanhóis. Apresentou-se ao escrutínio de uma parte importante do PSOE que sempre o viu com desconfiança, em particular a sua iluminadíssima política antiterrorista.

Arrependido

Acabo de ver na SIC Notícias a parte final de uma entrevista dada por Santana Lopes a Ana Lourenço. Ana Lourenço é, neste momento, a melhor entrevistadora da televisão portuguesa. É discreta porque é inteligente. Deixa falar e, estranhamente, ou talvez não, os entrevistados exibem-se quase sempre a excelente nível.
Mas deixando de lado as virtudes de Ana Lourenço, até porque não é bom que os jornalistas sejam notícia e, muito menos, vedetas, gostei de ver e ouvir Santana Lopes. Cumprido o período de nojo após uma turbulenta e traumatizante passagem pelo Governo, o antigo primeiro ministro foi igual a si próprio. Incisivo q. b., palavra fácil, uma que outra argolada, mas e, sobretudo, recordei nele uma coisa de que já não me lembrava. Uma paixão genuína pela política e pela confrontação, tantas vezes dura, que aquela exige.
Conclusão (e para que conste): arrependo-me todos os dias mil vezes por nele não ter votado e, consequentemente, ter dado um enorme contributo para pespegar em São Bento o outro. Um canastrão que por lá se pavoneia sem um pingo de vergonha, uma arrogância infinita e um enorme desprezo pela democracia.

Branco do Dão



Nada melhor, para começar um novo blogue, do que fazê-lo acompanhado de um Dão branco de 2006.