3.8.08

A Queda

«No dia 3 de Agosto de 1968, Salazar encontrava-se no Forte do Estoril e ali esperava permanecer até aos primeiros dias de Outono. Naquela data, um Sábado, recebeu às nove da manhã o seu pedicuro Augusto Hilário. A paixão de Salazar pela leitura de jornais e o facto de Augusto Hilário trazer consigo o Diário de Notícias seriam fatais. Salazar pede o jornal e distraído pela leitura em que imediatamente se embrenha tenta, atirando o corpo para trás, sentar-se numa das cadeiras de lona que se encontrava no terraço do Forte. Se durante décadas foi versão corrente que ao sentar-se, sob o peso do seu corpo e do impulso levado por este, a cadeira se teria partido e Salazar caído, batendo de seguida violentamente com a nuca no solo, Fernando Dacosta sustentou recentemente que o presidente do Conselho se terá deixado cair para trás, falhando a cadeira e produzindo o acidente que se revelaria fatal. Apesar de instado pela sua governanta, Salazar não aceitou ver um médico. Pede ainda que o incidente não seja revelado. Só a 6 é observado pelo Dr. Eduardo Coelho e nada foi diagnosticado. Nesse dia e nos seguintes a rotina mantém-se. Encontra-se com Américo Thomaz e continua a discutir os detalhes da remodelação governamental que se consumou a 19 de Agosto.
Só no dia 6 de Setembro o estado clínico de Salazar é reavaliado pelo neurocirurgião António de Vasconcelos Marques. Após uma primeira observação no Estoril – na sequência de um agravamento do estado de saúde de Salazar ocorrido dias antes –, suspeita-se de um “hematoma intracraniano” ou de uma “trombose cerebral” e existe forte possibilidade do doente entrar em coma a qualquer momento. Feitos exames nos hospitais dos Capuchos e de S. José, não há lugar a um diagnóstico conclusivo. Salazar segue depois para o Hospital da Cruz Vermelha em Benfica onde fica internado.
Entretanto, vários notáveis do regime são informados do sucedido e dirigem-se ao Hospital inquietos com o estado de saúde de Salazar e suas implicações políticas. Os médicos sugerem uma intervenção cirúrgica que será decidida por Bissaia Barreto (médico e amigo pessoal do doente) e Eduardo Coelho. Na cirurgia é diagnosticado um “hematoma intracraniano subdural crónico.” Feita aquela, Eduardo Coelho terá afirmado que estava o “problema resolvido”. Não estava.»

"Caixa" de um artigo sobre a "Queda" do presidente do Conselho. A publicar, um destes dias, nos Anos de Salazar distribuídos pelo Correio da Manhã e pela Sábado.

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