31.12.07

Até 2008!

Caríssimos leitores e caríssimas leitoras deste blogue.
Por este ano é tudo. Para o ano, embora não prometa, haverá mais.
Votos de um bom ano novo!

29.12.07

"Cara al Sol"

"Internacional"

"Himno de la Segunda República Española"

Salazar chega ao poder... e fica!

No mês de Abril de 2008 cumprem-se 80 anos sobre a chegada de Oliveira Salazar ao Governo onde ocupou a pasta das Finanças. Foi promovido a presidente do Conselho em Julho de 1932. No ano seguinte nasceu, à sombra de uma nova Constituição, a Segunda República portuguesa conhecida como Estado Novo. Apesar de sempre afirmado que vinha para Lisboa contrariado e com grande sacrifício pessoal, a verdade é que também sabia muito bem ao que vinha e porque vinha. Ficou e permaneceu 40 anos no poder. É, talvez, a personagem da vida política portuguesa contemporânea mais interessante e mais enigmática. Aguarda um novo biógrafo, depois de Franco Nogueira o ter retratado em seis grossos volumes publicados nas décadas de 1970 e 1980. Escutemo-lo um pouco no dia em que na cidade de Braga se comemoravam os 10 anos do 28 de Maio de 1926.

Maio de 1968? Serge Reggiani

Em 2008, cumprem-se 40 anos sobre o Maio de 1968. O "Maio de 1968" não foi apenas em França, nem sobretudo em França. Tem raízes em muitos acontecimentos que tiveram lugar um pouco por toda a Europa e, também, nos EUA. O "Maio de 1968" foi português e brasileiro e foi, porque não, inspirado sobretudo pelo maoismo e pela Revolução Cultural Chinesa promovida por Mao Tsé-tung em meados da década de 1960. Uma "revolução permanente" que servia os desígnios de poder de Mao destruindo tudo à sua volta.
Os Maios de 1968, burguesmente anti-burgueses, fizeram-se contra o capitalismo e imperialismo europeu e norte-americano, mas também contra o social-fascismo soviético. Tinham raízes em movimentos culturais e intelectuais que marcaram a história da Europa e dos EUA desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Pretendiam destruir o capitalismo e a sociedade burguesa, mas também o totalitarismo soviético. Os seus protagonistas ao fantasma de Trostki, e veneravam as revoluções terceiro mundistas em África, na América Latina e no Sudeste Asiático. Mas os revolucionários de 68, absolutamente intolerantes, podiam odiar-se tanto e perseguir-se tanto entre si como aos seus inimigos objectivos. O Maio de 1968 deve, também por isso, ser recordado. E depois, porque nos deixou músicas, letras e intérpretes inesquecíveis! Como Serge Reggiani!

The Costs of Containing Iran

21.12.07

Revisionismo histórico ou quê?

Às oito da manhã na TSF e à uma da tarde na TVI, lá disseram os jornalistas de serviço, diligentemente, que o alargamento do "espaço" Schengen à Europa central e de leste punha finalmente um ponto final na história da "Cortina de Ferro". Ou seja, a "Cortina", que nos tínhamos habituado a considerar sinónimo da divisão da Europa por causa da ocupação militar soviética de países como a Checoslováquia, a Bulgária, a Roménia, a Hungria e dos três estados Bálticos, tinha afinal, para espanto meu, sobrevivido dezanove anos à queda do Muro de Berlim, dezassete à implosão da URSS e, consequente, ao fim da Guerra Fria. Como a afirmação foi produzida duas vezes em órgãos de informação tão distintos, é óbvio que ela só pode ter tido origem externa às redacções. Por isso, só me pergunto se tão arrojada afirmação é sinónimo de puro revisionismo histórico ou de singelo servilismo ideológico perante os superiores desígnios da "Nova Europa"? Por mais que uma coisa vá dar à outra.

18.12.07

Poder de Compra

No "economia dia a dia" da TSF de hoje, Perez Metelo, sempre muito amigo do Governo, recorda-nos que o excepcional aumento do salário mínimo previsto para o próximo ano representará um aumento do poder de compra dos trabalhadores que dele beneficiam. Só gostava que o jornalista me explicasse como é possível, com pouco mais de 400 euros de salário mensal, ter qualquer poder de compra.

Sempre a aprender


Num noticiário da TSF refere-se hoje, não sem emoção, que Fidel Castro admitiu, numa mensagem lida na "televisão do Estado", que poderá não regressar ao exercício do poder. Além deste minudência óbvia que apenas aguarda confirmação definitiva no dia da morte do ditador, fiquei a saber que, em Cuba, existe pelo menos uma estação de televisão privada.

16.12.07

Singela Homenagem

Por causa da vitória de ontem dos "belenenses" sobre o Benfica, segue uma justíssima homenagem ao "mister" do Belém:

15.12.07

A Questão do Kosovo.

A provável e talvez inevitável independência do Kosovo está, compreensivelmente, a baralhar muita gente e a mostrar como, também nestas coisas da autodeterminação e independência de "povos" e "nações", é muito difícil manter coerência política e ideológica. É sobretudo o caso daqueles que se opõem à eventualidade.
Basta que se olhe um pouco para a história para perceber que não existe nenhum argumento político capaz de impedir a criação de mais um estado nos Balcãs. Inviável, ou não, o futuro estado do Kosovo, a verdade é que não será o primeiro, nem sequer o mais inviável daqueles que foram criados depois de 1945. O mesmo argumento é válido se nos opusermos à sua independência por e considerar que será factor de transcendente instabilidade na região.
Parece-me a mim que dificilmente, se pode ter andado nas décadas de 1950 e 1960 a defender e a propor independência de tudo o que era território colonial nas Caraíbas, em África ou na Ásia, já para não falar, por exemplo, de Timor-Leste, e sustentar agora que a independência do Kosovo criaria um estado inviável nos Balcãs.
Há depois o argumento de que a independência do Kosovo é mais uma provocação gratuita à Sérvia e aos sérvios, nomeadamente ao amputar uma parte do seu território de grande importância histórica, ideológica e simbólica. No entanto, seria ridículo que depois da Sérvia ter sido amputada de quase tudo, se fizesse cerimónia com o Kosovo, ainda mais quando a "comunidade internacional", sem mandato da ONU, interveio militarmente contra a Sérvia no Kosovo para impedir o "genocídio" de kosovares mas, de facto, e em última análise, para retirar a Belgrado a capacidade de exercer a sua soberania, internacionalmente reconhecida, sobre uma parte do seu território.
Existe ainda o argumento segundo o qual o reconhecimento europeu e internacional, nomeadamente norte-americano, de uma independência do Kosovo, abrirá uma caixa de Pandora naquelas regiões da Europa, nomeadamente na nossa vizinha Espanha, em que existem fortíssimas tensões nacionalistas e independentistas. Para o bem, ou para o mal, independente o Kosovo, Catalunha ou País Basco também o deverão ser. Porém, a verdade é que a dita "caixa", no que diz respeito aos eventos na antiga Jugoslávia, está aberta há quase vinte anos e, naquilo que “concerne” à Espanha, não só problema nacionalista é mais antigo, como não é liquido que vá degenerar em independências indiscriminadas provocadas por contágio. Por exemplo, depois da balcanização da Europa que teve lugar após o fim da Primeira Guerra Mundial, muitas nações europeias e não europeias ficaram, e ainda permanecem, sem estado. Ora se a partir de 1919 se abriram tão generosamente as portas aos nacionalismos (como nas décadas de 1940, 1950 e 1960 com a vaga descolonizadora), mas todas as questões nacionais não foram resolvidas e a aparente ou real loucura criação de novos estados acabou por ser controlada, não é líquido que seja agora Kosovo independente a redefinir radicalmente as fronteiras europeias ou outras. Sendo certo que a balcanização de Espanha é uma possibilidade e, até, provavelmente, uma possibilidade a evitar, muito mais do que uma independência do Kosovo contribuirá directa ou indirectamente para que tal possa vir a acontecer. No entanto, a balcanização de Espanha só será efectivamente dramática se decorrer de uma vitória do terrorismo sobre a democracia, cenário que no Kosovo nunca se colocou (houve terrorismo de parte a parte e democracia em parte alguma). Paralelamente, seria estranho que não se ponderasse a forte possibilidade de a União Europeia estar condenada a integrar no seu seio aquilo que se propõe agora, e transitoriamente, fraccionar.
Finalmente, há quem se refugie, para defender a integridade territorial da Sérvia, nos perigos que encerra uma rectificação de fronteiras como a que está em marcha na Sérvia e no Kosovo. Ora na verdade a história da Europa tem sido feita, sempre foi feita, a partir da rectificação de fronteiras impostas pelos mais fortes. E diga-se, aliás, para o bem ou para o mal, que este não é sequer apenas um problema europeu naquilo que aos último 50 ou 60 anos diz respeito. Por exemplo, a comunidade internacional, que integrou “sabiamente” a Eritréia na Etiópia depois da Segunda Guerra Mundial, reconheceu o seu direito à autodeterminação e independência há meia dúzia de anos após décadas de guerra civil. A mesma comunidade internacional que reconheceu um único estado paquistanês – um ocidental e um outro oriental –, aceitou décadas mais tarde a inevitabilidade e a bondade da criação do Bangladesh a partir do antigo Paquistão oriental e após vários anos de guerra civil. A comunidade internacional também pouco ou nada faz para impedir a integração do Saara ocidental em Marrocos (outra redefinição de fronteiras), como não mexeu uma palha para evitar aquilo que foi uma violação ilegal e violenta do princípio de não revisão unilateral de fronteiras quando, em Dezembro de 1961, tropas da União Indiana invadiram e ocuparam o "Estado Português da Índia." E por aí fora…
No entanto, apesar de tudo isto, devo confessar que nunca simpatizei tanto com as posições da Sérvia. A Sérvia e os sérvios têm sido ultimamente vítimas maiores do cinismo, da cobardia e da chantagem europeia cujo último momento alto foi a promessa feita a Belgrado de acelerar a sua entrada na UE a troco da aceitação pelo governo e pelo povo sérvio da independência do Kosovo. Este episódio, aliás, fez-me lembrar as propostas que os EUA, no tempo de JFK, faziam ao governo português para que este aceitasse a independência de Angola e, um pouco mais tarde, de todas as "províncias ultramarinas" de então. Para Kennedy, mas não para Salazar, a questão colonial portuguesa era, ou devia ser uma questão de dinheiro. A troco de uns milhões de dólares – uma espécie de fundos estruturais avant la lettre – deixava-se o império e tudo passaria a viver na paz do senhor.

10.12.07

Funeral do "Guardia Civil" Fernando Trapero



Quis, mas não pude, publicar estas imagens a semana passada. Aqui vão. Uma sincera homenagem aos que morreram em Espanha na luta contra o terrorismo da ETA.

Crime sem castigo

Mais um “segurança da noite” – seja lá o que isso for – foi assassinado ontem com tiros de metralhadora em Gaia à porta de sua casa. Parece que é a sexta personagem da noite que morre baleada ou esfaqueada. O que faz o Governo? Assobia para o lado, garantindo que tudo está sob controle. O ministro da Administração Interna, personagem politicamente absurda, tem que sair do Governo e a polícia e os tribunais têm que actuar. E não me venham dizer que andam a investigar. Num meio como o da "noite" toda a gente sabe de onde é que vem o perigo e quem é que pode ser assassinado a seguir. Se ninguém faz nada é caso para desconfiar de tamanha impotência, o que quer dizer que as teias tecidas pela "noite" entram pelas polícias e pelo ministério público do Porto dentro.

Há português maior do que Sócrates?

Com o intuito de promover uma nova imagem do nosso país – e tudo, na vida como na morte, se resume para este Governo a uma “questão de imagem” –, parece que está para rebentar mais uma campanha "mediática" sobre Portugal lá fora. Custou uns três milhões de euros (coisa pouca tendo em conta uns grandes resultados que serão obtidos) e conta com a participação de grandes portugueses vivos que vão do génio Cristiano Ronaldo à humilde Marisa, passando pelo impagável Mourinho. Pelo meio aparecem outros grandes portugueses mais ou menos obscuros, mas com grande obra que falará por si e por eles. Mas há uma ausência lamentável, inexplicável e, até, provocatória. O nosso primeiro Sócrates não aparece. Os “criativos” da campanha, aparentemente, ignoraram-no. Ora, pergunto eu: existe, em Portugal português maior do que ele e que mais tenha contribuído para a nova imagem de um Portugal melhor? É o que se pode chamar um desperdício insustentável de recursos. Tão elegante, tão culto, tão determinado, tão educado, tão tudo! E nada. Não aparece!

9.12.07

Espanha, Portugal e a Cimeira Europa-África de Lisboa.

Não se pode negar que Portugal foi notícia em Espanha por causa da cimeira Europa-África concluída hoje. No entanto, os holofotes sobre a dita, e ao menos nos "telejornais" da TVE, centraram-se num encontro realizado em Lisboa, durante a cumbre, que juntou à mesma mesa Zapatero e Sarkozy para discutirem a cooperação franco-espanhola na luta contra o terrorismo etarra (ver aqui a cobertura do evento pelo El Mundo on-line). Isto para dizer também que seria importante perceber o que é os media de cada de cada país europeu ou africano consideraram valer a pena destacar da citada e redundante cimeira. Tais perspectivas serão interessantes e importantes em si mesmas, mas mais ainda por nos fazerem recordar como foi patético e supérfluo o discurso oficial português e europeu sobre o evento.
Para fim de conversa, fica uma referência a esta notícia no El País on-line sobre a colhida grave de que o toureiro Jesulín de Ubrique foi vítima na Praça de Touros de Elvas. Acontecimento cheio de relevância, tanto pela qualidade do diestro como pelo facto de se tratar da sua última corrida em Portugal e uma das últimas da sua carreira.

1.12.07

Restauração

No dia 1 de Dezembro de 1640 deu-se início, com um golpe palaciano bem sucedido que pretendia pôr fim ao domínio espanhol em Portugal, a uma das mais relevantes e dramáticas revoluções políticas e sociais que o nosso país conheceu em mais de "oitocentos anos de história." Essa Revolução, aguardada por um país e um império ocupados e um povo humilhado e violentado pela boçalidade espanhola, restituiu-nos não apenas a liberdade e a independência. Trouxe de volta a dignidade entretanto perdida.
Hoje, dia 1 de Dezembro de 2007, como aliás genericamente nas últimas décadas, a "Restauração" da independência portuguesa não merece um comentário, uma análise ou uma notícia digna de nota. O seu chefe, o futuro D. João IV (ver imagem acima), é uma não existência para a generalidade dos portugueses que não fizeram a antiga “4.ª classe”. Na imprensa escrita que li, nas rádios que ouvi e nas televisões que vi, escreve-se e fala-se da SIDA – hoje é o seu dia internacional –, da "bola", da Ota e dos empréstimos camarários do Sr. Presidente António Costa. Tudo factos da maior importância para o nosso destino colectivo. O tempo e a ignorância tudo esquecem e tudo justificam. Mas valha a verdade que prefiro este esquecimento, ao circo todos os anos montado e desmontado em torno do "25 de Abril" ou do "25 de Novembro." Já para não falar no que aí vem quando se comemorarem os 100 anos da implantação da República.
P.S.: É verdade que, na Rádio Renascença, António Sala entrevistou D. Duarte Nuno. Não ouvi a dita, mas imagino-a.