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Além de, com gosto, me abster classificar aquilo que, a propósito da preservação da memória, em geral, e desta questão do forte de Peniche, em particular, não passa de uma leitura político-ideológica, embora legítima, da história do século XX português, só pergunto porque razão Irene Pimentel e outros guardiães de uma certa memória “antifascista” nunca, que eu saiba, se indignaram, por exemplo, com o facto da prisão de Caxias (mandada construir por Salazar para melhor acolher presos políticos desumanamente instalados em cárceres como a de Peniche), continuar a albergar presos de delito comum que no seu dia à dia (tanto como um eventual frequentador do forte de Peniche depois de construída a respectiva pousada de Portugal), conspurcam a memória das vítimas do salazarismo e do marcelismo.
Digo isto por uma razão simples em forma de conselho. Seria péssimo que para os guardiães da memória da repressão “antifascista” esta só fosse desrespeitada quando se constrói um condomínio de luxo no lugar daquela que foi uma das sedes da polícia política durante o Estado Novo, e uma Pousada de Portugal num antigo forte-prisão que privou da liberdade, ao longo de uma história secular, e entre outros, muitos “antifascistas”.
Adenda: Na mesma linha de Irene Pimentel, e sobre o mesmo tema, veja-se o post de Rui Bebiano na "Terceira Noite". A propósito deste texto apenas acrescento uma nota e uma pergunta. 1) Parece-me de grande rigor histórico a comparação feita por um historiador entre a prisão "fascista" de Peniche e o campo de concentração de Auschwitz. 2) A quantos quilómetros de Auschwitz, e da Fortaleza de Peniche, é legítimo construir um hotel ou, já agora, um "Spa"?